Cecília não estava preparada para aproximação de AJ, achou que ele esperaria ela ir até ele, isso daria tempo para pensar como agir. Seu coração batia tão alto e tão descompassado que ela achou que teria um ataque cardíaco aos vinte anos.
Sua mente a mandou controlar-se, tratá-lo a princípio com a distância que ele a vinha tratando todos estes anos, mas seu coração e seu corpo reagiram arrebatadoramente ao contrário.
Cecília praticamente pulou para os braços de AJ, enlaçou-o pelo pescoço e grudou seu rosto e seu corpo no dele, dizendo somente, quase num sussurro:
- Ah, AJ, que saudades...
Por alguns segundos AJ não teve qualquer reação. Só sentia aquele corpo magnífico junto ao seu, sentia o cheiro dos cabelos dela.
Que saudade daquele cheiro tão familiar!
Ouvir aquele sotaque cadenciado que parecia aos outros, tão bucólico, era música nos lábios de Cecília e esqueceu-se que precisava mantê-la à distância, esqueceu-se que sua “noiva” estava no mesmo planeta, enlaçou Cecília pela cintura e a apertou num abraço mais do que afetuoso.
Linda não estava gostando nada daquilo.
Ela já havia percebido, desde a hora que chegara que AJ estava apreensivo, inquieto. Uma novidade para ela, pois achou que nada realmente abalasse aquele homem. Desde a primeira vez que o vira, o achara forte, decidido, sentira até um pouco de medo dele. Apesar de lhe mostrar um lado sedutor, galanteador, ela vira que era somente uma presa. Ele estava caçando. E ela, sem muito esforço, fora abatida. Difícil resistir um espécime como ele.
Ela já conseguira dispensar inúmeros homens que confundiam a sua profissão com a de prostituta, outros que realmente se achavam apaixonados, aficionados, mas nenhum a atingira como AJ. Com ele, ela se sentiu especial, única, como há muito tempo não se sentia e depois com o pedido de casamento, achou que também o atingira. Não que ela estivesse completamente apaixonada por ele, isso não, ela gostava dele. E gostava muito mais de seus milhões!
Ele era lindo e por mais que ela não gostasse de fazer amor, achava o contato físico entre homem e mulher desnecessário, sabia por experiência própria que ele era magnífico se tratando disso, já tivera algumas experiências nada satisfatórias, homens que só pensavam em si mesmo e esqueciam que estavam com outra pessoa ali e AJ se preocupara com seu prazer. E com suas despesas!
Sua carreira de modelo já estava no final, com 28 anos, as agências já não a chamavam para nada. Havia feito o desfile para Mia, pois a estilista achou que sua idade e elegância, atingiam exatamente seu público alvo, as mulheres mais maduras.
Não que ela aparentasse ter essa idade, mas agora tudo ficara mais difícil, manter sua beleza ficara mais caro e mais penoso. E bem, ela sempre tivera um fraco por coisas realmente finas e caras e suas finanças não iam nada bem. Todos pensavam que por ela ser uma modelo internacional, que desfilara com as melhores marcas, ela nadava em dinheiro, mas a realidade era outra, ela nunca fora uma top, ela somente fora mais uma, seus cachês não chegavam nem de longe comparados com Campbell, Bündchen, Moss. E também ela não soube investir e agora estava quase à ruína e casar com AJ era sua saída triunfante da carreira. Iria ser esposa de um magnata do petróleo. O que mais ela poderia desejar?
Talvez que essa vaqueira magnífica não existisse, fosse um começo.
Ela não sabia que existiam mulheres que se podiam dar ao luxo de se vestir dessa forma, sem parecerem caracterizadas para uma feira pecuária. Sabia que em Dallas as pessoas gostavam deste estilo, mas não achou que uma mulher como Cecília se vestiria assim e ainda por cima ficar estupenda. Ela não parecia deslocada, ela era perfeita. Perfeita demais para seu gosto. Uma amiga de infância. Uma mulher que qualquer homem gostaria de ter em sua cama, pelo menos uma vez, não uma vez, mas várias vezes. A contemplação pura e totalmente devotada que ela fizera em AJ a preocupara. Bom, Linda sabia que tinha uma concorrente e não uma qualquer, mas uma mulher linda e por sua experiência, completamente apaixonada por AJ. Agora que sabia o motivo da inquietação do noivo, ela ficara realmente apreensiva.
E Deus, quanto tempo os dois iam ficar assim, agarrados.
Será que AJ esqueceu-se que estou aqui. É melhor agir.
Linda levantou-se e pigarreou para chamar a atenção. Cecília abriu os olhos e então viu a bela mulher que estava em pé, próxima ao sofá.
Oh, vai ser um páreo duro, ela realmente é um show e elegante! Deus, um pau de virar tripa. Desde quando AJ gostava de mulheres sem carne? – pensou Cecília, franzindo os olhos. - Talvez o vestido esconda alguma curva perdida, quem sabe?
AJ soltou-a lentamente, quando na verdade teve vontade de dar um salto para trás, quando ouviu Linda se manifestar para se fazer notar. Mas não daria essa mancada, se, se afastasse dessa forma, iria atestar sua culpa. E ele não era culpado de nada, não é mesmo?
Ah, que mentira deslavada!
Como ele iria se virar, sem que Linda notasse sua ereção, porque ele havia ficado com uma tremenda ereção, dessas que doem. O jeito era torcer para que seu blazer a escondesse totalmente. E aparentando uma tranqüilidade que não tinha e da forma mais natural possível, pegou a mão de Cecília entre as suas e a levou até Linda:
- Cecília, essa é minha noiva, Linda Nielsam. Linda, Cecília Medeiros, a amiga que lhe mencionei.
As duas estenderam as mãos sem desviar os olhos uma da outra, dizendo “um prazer em conhecê-la” mais do que forçado.
A guerra estava oficialmente declarada.
AJ reparou que a cordialidade entre as duas não era real. Bem ele conhecia Cecília muito bem, se ela ainda o quisesse, ele estaria mais que perdido, porque ela lutaria com todas suas armas.
Ela, desde quando nascera dificilmente não conseguira algo que realmente queria agora Linda, ele até ficou surpreso, era a primeira vez que via Linda ter uma reação passional. Mas precisava ser cuidadoso, se realmente queria casar-se com Linda e manter Cecília longe, teria que ficar atento para não cair nas armadilhas que Cecília, com certeza, armaria. O problema de se conhecer uma pessoa a vida inteira, era também saber de seus defeitos, ou qualidades, não sabia se Cecília era persistente de uma forma negativa ou positiva. Bem, pensou por fim, precisava de ajuda. Mia.
- Vamos? Temos que ainda buscar Mia no ateliê e já estou faminto – disse AJ para as duas.
De uma forma possessiva que ele nunca vira, em um mês de namoro com Linda, ela pegou seu braço, dando um sorriso de triunfo para Cecília, dizendo:
- Claro, querido, vamos – lançando a AJ um olhar apaixonado.
No mesmo instante, Cecília pensou:
Vai ser assim? Ela não tem idéia com quem está lidando, esse bambu- de cutucar -- céu!
Cecília pegou o outro braço de AJ e disse da forma mais doce possível:
- Vamos!
AJ não estava gostando de se sentir pela primeira vez na vida a presa, mesmo que as caçadoras fossem duas mulheres deslumbrantes. Sentia-se no meio de um alvo para dardos venenosos.
Bem, ele saberia lidar com as duas, não era um garoto inexperiente, tinha uma lista de conquistas para confirmar isso, mas o problema era que, uma dessas mulheres, mesmo depois de tantos anos, ele ainda não se sentia pronto para lidar com ela. E, por que, por que, ela tinha que ter ficado mais sexy, mais atraente do que já era? Não! Ele tinha que pensar em suas famílias, ele sabia como a mente de sua cidade natal funcionava, eles eram retrógrados e um relacionamento seu com Cecília, nunca seria aceito por seus pais ou pelos pais dela, por motivos que ele não concordava, mas ele fora criado naquela família, vivia como um membro dessa sociedade, então teria que viver de acordo, pelo menos por enquanto, pelos termos deles.
Dessa vez, Cecília reparou que não houve uma cabeça que não se virasse para olhá-los saindo. Devia ser realmente um prato cheio para fofocas, o presidente da Mclean, com duas mulheres lindíssimas, “penduradas” em seus braços, uma querendo chamar a atenção para si, mais do que a outra.
Porém, ao chegarem aos elevadores que os levaria para o subsolo onde estava o carro de AJ, de forma sutil, AJ desvencilhou-se do braço das duas, sem que ao menos elas percebessem que fora de propósito. Não podia se dar ao luxo de ser alvo de fofocas em sua própria companhia, apesar de saber que as pessoas já estavam comentando seu noivado e também sabia que tinha fama de Dom Juan. Não daria mais munição.
Chegaram a sua pick-up preta, de cabine dupla e Cecília pensou que AJ não poderia ter outro carro, aquele combinava com o estilo dele. Um homem de negócios, mas com as raízes no campo.
AJ abriu o carro, Linda sentou a seu lado no banco de passageiro, enquanto Cecília, pelo menos por agora, se contentou com o banco de trás.
Ele dirigia com sua segurança peculiar pelo tráfego da cidade. Mesmo com as duas mulheres quietas dentro do carro, AJ se sentia tenso. A todo instante espiava Cecília pelo retrovisor, quando ela notou uma dessas espiadelas, ela lhe abriu o mais malicioso dos sorrisos. Ele desviou os olhos rapidamente, o ato não passou despercebido por Linda, que no mesmo instante e para, mais uma vez, surpresa de AJ, começou a massagear-lhe a nuca e quase sentando no colo dele, começou a massagear-lhe a coxa com a outra mão. AJ chegou a arregalar os olhos para ela, mas ela também lhe deu um sorriso atrevido. Para Cecília que estava no banco de trás, parecia nitidamente que Linda estava masturbando AJ por cima da calça.
AJ sentiu-se embaraçado e pasmo por Linda estar agindo dessa forma. Jamais imaginou que a moça contida, que quase nunca demonstrava seus sentimentos através da ação, que não tinha arrebatamentos de paixão, que era quase como um peixe no Ártico, estivesse neste momento, talvez por ciúme, ou por ter sentindo algum sentimento dele em relação à Cecília, estivesse se expondo dessa forma. AJ pensou que se não fosse Cecília no banco de trás, ou talvez outra mulher no banco da frente, ele já teria parado a pick-up e estaria fazendo amor alucinadamente com essa mulher, mas seu corpo nem ao menos reagiu e isso era assustador para um homem como AJ. Talvez, ele pensou, que o fato de ter marcado a data de seu noivado oficial e seu casamento, o tivesse transformado num ser assexuado. Mas o que dizer de sua ereção, quase escandalosa, quando simplesmente abraçara Cecília no escritório?
Graças aos céus, eles chegaram à frente do ateliê de Mia e melhor, ela já estava os esperando do lado de fora. Para fugir do contato de Linda e não por querer ser cavalheiro com a irmã, pois não precisava disso com ela, saltou do veículo e abriu a porta de trás para Mia entrar. Mia chegou a erguer as sobrancelhas, como que lhe perguntando o que era aquilo, a que ele discretamente respondeu:
- Nem queira saber...
Mia entrou no carro, já abraçando Cecília com entusiasmo, as duas quase lacrimosas dizendo como sentiram saudades uma da outra, quando os abraços acabaram, Mia educadamente cumprimentou a noiva do irmão, não que ela não gostasse de Linda, fora a própria Linda que colocara esses limites, sempre tão formal e distante.
Depois da chegada de Mia, eles conversaram somente trivialidades, AJ sentiu-se aliviado, pois Linda não tentara mais “atacá-lo” e ele ria das bobagens que as mulheres falavam.
Chegaram ao elegante restaurante, que há essa hora, estava lotado e na sua maioria de empresários homens, mas como sempre Janice havia feito reservas em nome de AJ, o que não os fez esperarem uma mesa.
Enquanto se encaminhavam a mesa, AJ reparou que não houve um homem que não olhasse para o grupo, alguns cobiçando descaradamente, outros discretamente, alguns AJ conhecia e seus olhares a AJ eram de pura inveja. Não era todo dia que um homem estava acompanhado com três beldades: uma morena de cabelos pretos e olhos verdes, extremamente elegante, quase da altura de AJ; uma outra morena, de cabelos medianos, vestida à moda de Dallas, jeans justos, botas, chapéu, com um corpo de fazer qualquer homem implorar somente por um olhar, transbordando sexualidade por todos os poros; e por último, uma mulher pequena, de corpo proporcional, vestida com uma de suas criações que a deixava elegante e sexy, balançando seus cabelos castanhos claros e sorrindo, de forma metafórica, com seus olhos azuis. AJ realmente poderia se considerar um homem de sorte.
Eles sentaram a mesa e o maitre veio atendê-los prontamente, chamando AJ pelo nome, tratando-o com toda deferência que um homem como AJ merecia. Entregou a ele a carta de vinhos e pedindo licença, informou que o garçom já iria trazer os menus para as damas.
AJ dispensou o vinho a pedido das três. Fizeram o pedido da comida e o almoço estava caminhando muito bem, com o mesmo clima leve depois que Mia havia entrado no carro, quando ele sentiu por debaixo da mesa um roçar de pé, em sua canela e panturrilha. Percebeu que não poderia ser Linda, pois ela estava de sandália, esse pé a acariciá-lo usava um calçado mais pesado. Olhou para Cecília e ela lhe deu um olhar inocente.
Meu Deus o pensou como ela podia? O que ela pretendia com isso? Não bastava para ela, ele estar noivo?
Ele recolheu a perna e dirigiu a Cecília um olhar feroz e de forma discreta, balançou sua cabeça negativamente. Ela somente tombou a cabeça de lado, fazendo um gesto, como que dizendo se era o que ele realmente desejava, ela parava.
O que não passou despercebido a AJ também, foi o modo natural e elegante que Cecília e sua irmã comiam, apreciavam a comida, enquanto Linda comia devagar demais, como que contando cada garfada que dava, depreciando a refeição a sua frente. Tudo bem, ele não podia julgar as pessoas somente por isso, ele não sabia como Linda havia sido criada, mas como em sua casa e na de Ciih, toda a conversa era quase ao redor de uma mesa com alguma guloseima, era difícil para ele imaginar uma mulher que não apreciasse uma boa refeição.
Encerraram o almoço, com duas sobremesas enormes para Cecília e Mia e Linda dispensando a sua e AJ somente tomara um café. Eles saíram do restaurante ainda tendo Mia e Cecília com suas diabruras infantis como assunto principal. AJ achou que apesar de tudo, havia sido um almoço agradável, Linda até participara da conversa contando algumas das suas façanhas infantis, ou até mesmo alguns fatos inusitados que acontecera na sua carreira de modelo.
AJ queria que sua mente estivesse como o almoço, leve e descontraída, mas não se sentia assim.
AJ voltara para o escritório, mas não conseguiu mais trabalhar, seu pensamento estava todo voltado para certa mulher e essa mulher não era sua futura esposa.
Havia deixado Mia e Cecília no apartamento de Mia. Sua irmã estava com tantas saudades da amiga e com tantos assuntos para colocarem em dia que ela havia deixado o ateliê a cargo de Marcy. E Linda também ficara por lá, claro que em sua cobertura e não com Mia e Cecília.
Bem que ele tentou, mas não conseguiu se concentrar, sendo assim, resolveu voltar mais cedo para casa. Infelizmente, por culpa dele, não poderia ter a casa só para si. Tudo bem que ele pedira Linda em casamento, mas por que, ele mesmo ainda não entendera, já havia trazido a mulher para morar com ele? Talvez ele inconscientemente soubesse que se ficasse sozinho, poderia arruinar seus planos de começar uma família. Não que ele tivesse sido fiel a Linda nesse um mês de “namoro”, mas depois que a pedira em casamento, ele achou que devia isso a ela e a ele próprio.
Chegou a casa e já subindo pelo elevador se sentiu tentado a digitar o código de segurança que o levava para o andar de Mia, queria perguntar a Cecília o que fora aquela carícia por baixo da mesa, mas mais que depressa tirou esse pensamento da cabeça, mesmo que quisesse não poderia conversar com ela, pois Mia estaria lá e depois tinha sua noiva em seu apartamento, talvez o esperando...
Eu deveria ficar feliz em ter uma mulher linda me esperando, mas a verdade... É que ela não é a mulher que eu gostaria que estivesse lá... Droga!
Entrou no pequeno hall entre o elevador e a maciça porta dupla de madeira que levava ao seu apartamento.
AJ entrou no hall seguinte. O chão era de mármore rosa, com duas estátuas gregas também de mármore em nichos opostos da parede, com uma iluminação indireta, de cor amarela deixava o hall com ar confortador. Desceu os três degraus que dava para uma grande sala de jantar, com uma imensa mesa de madeira polida, com doze cadeiras de espaldar alto e veludo vermelho, do lado esquerdo havia um enorme Buffet com algumas baixelas de prata de sua mãe. No centro da mesa um lindo arranjo de rosas vermelhas, que exalava um cheiro agradável por todo o cômodo.
As cortinas estavam abertas e ele podia ver dali à belíssima paisagem de um dos parques mais lindos de toda Dallas, o Turtle Creek. Quando tinha tempo, o que era quase nunca, ele ia ao parque correr ou simplesmente sentar e olhar o imenso lago.
O dia estava quente e os raios de sol invadiam a sala, iluminando o ambiente, era a natureza dando seu show.
AJ virou a esquerda para dirigir-se a cozinha, passou em frente ao pequeno e limpo lavabo à esquerda no corredor e entrou num pequeno cômodo, pintado inteiramente na cor laranja. Havia uma mesa quadrada com tampo de vidro e pés de vime, contendo oito cadeiras confortáveis também de vime e com almofadas com um tecido colorido, essa era a sala de almoço e café informal, onde AJ e Mia, agora Linda, faziam suas refeições. Ali também havia um arranjo de flores na mesa e também se via a beleza dos raios solares, pela imensa janela.
Entrando pela portas vai-e-vem da cozinha moderna, encontrou a Sra. Bishop, sentada numa pequena mesa redonda tomando um chá. No mesmo instante a senhora se levantou, dizendo:
- Desculpe Sr. Mclean, não imaginei que o senhor chegaria tão cedo.
- Por favor, Sra. Bishop, meu nome é AJ, já disse isso para a senhora milhares de vezes e não se preocupe comigo, sente-se e continue seu chá.
A mulher sentou-se:
- Obrigada.
AJ tirou seu paletó, jogou-o sobre o encosto de uma cadeira, afrouxou a gravata, abriu a geladeira e pegou uma garrafa de vinho que já estava aberta. Foi até o armário e pegou uma taça para servir-se. Antes de sentar-se mostrou a taça de vinho a Sra. Bishop para oferecer-lhe um pouco, o que ela recusou também sem dizer uma palavra.
Ele sentou-se a mesa e perguntou com voz cansada:
- Onde está Linda?
- A última vez que a vi, ela estava na sala branca, senhor. E a Sra. Medeiros ligou para o senhor, pediu assim que o senhor chegasse ligasse para ela.
- Obrigada, Sra. Bishop e depois quando terminar seu chá, a senhora já pode se recolher, não vou querer jantar e se Linda quiser alguma coisa, ela mesma providenciará.
- Obrigada.
AJ pegou o celular do bolso de seu paletó, pensando o que à mãe de Cecília gostaria de falar com ele. Discou o número e esperou ansioso alguém atender.
Depois de três toques a própria Sra. Joyce atendeu:
- AJ? – a voz dela estava ansiosa.
- Oi, tia Joyce, tudo bem com a senhora? Algum problema?
- Tudo bem, querido, nenhum problema. Ela hesitou por instantes e continuou – parabéns pelo seu noivado, filho, fico muito feliz por você ter encontrado a mulher certa para você, já estava na hora, não é mesmo?
- Obrigado, tia. – AJ jamais admitiria para ninguém, que Linda talvez não fosse realmente a mulher certa.
Ele percebeu que Joyce tinha algo mais para dizer, esperou alguns segundos, então ela perguntou:
- Cecília está em Dallas, você já a viu?
- Sim, almoçamos juntos. Eu, Mia e minha noiva.
- Ela já conheceu sua noiva? Isso é bom, muito bom...
AJ achou estranho o jeito de falar da Sra. Medeiros. Será que ela sabia de alguma coisa? Deus! Será que ela sabia... Daquele... Daquilo?
- Tia, a senhora não me parece bem, o que há?
- Ah, querido, é tão difícil para eu falar sobre isso, afinal Cecília é minha filha e você é como um filho também para mim... Eu sei que não devo me meter na vida de duas pessoas adultas, mas... Acho que agora que você está noivo, eu possa ficar mais tranqüila...
- Tia, do que a senhora está falando? Cecília chegou bem, ela está bem, não está?
- Sim, bem até demais... Eu vou ser franca com você, filho, afinal você conhece Cecília desde que ela nasceu. Você sabe que quando ela põe uma coisa na cabeça, ninguém consegue remove-la, pois bem, querido, ah, como isso é difícil, mas... Bem, ela acha que ama você e foi até aí para destruir seu noivado com essa moça.
- Tia, isso é um absurdo, Cecília, sempre foi como uma irmã para mim e ela sabe disso – AJ mentia muito bem quando precisava, a única coisa que conseguia pensar era que seus maiores temores eram reais, Ciih ainda o amava depois de todo aquele tempo e estava disposta a tudo para conquistá-lo e a confirmação vinha de sua própria mãe. É realmente ele estava perdido.
- Sim, eu sei que você se sente assim, em relação a ela...
Mal sabe a senhora como me sinto, pensou AJ.
- Mas eu gostaria, mesmo assim, de lhe pedir um favor. Cecília é uma mulher linda, atraente... E você um homem saudável e bem, não muito recatado.
AJ riu com a maneira gentil de sua tia dizer-lhe que o achava um pervertido.
Joyce continuou:
- Por favor, AJ, não dê esperanças a ela, não se deixe seduzir... Não transforme minha filha em mais uma de sua lista.
Nossa essa foi pesada.
- Tia Joyce, eu...
- Eu posso até estar sendo injusta com você, mas seu passado o condena, não em relação à Cecília é claro, mas... Você é um homem experiente, não são somente nos quinze anos que os separam, mas também nessa vasta experiência.
Apesar de AJ saber que Joyce estava certa, aquele ar de “você não serve para minha adorada filha” não o agradou
- Resumindo, tia Joyce: “mantenha suas mãos longe da minha filha, você não é o homem certo para ela”. Pode ficar em paz, tia, Cecília está a salvo.
- AJ, eu não quis ofendê-lo...
- Não, tudo bem, a senhora mesma disse, meu passado me condena, não é mesmo? Qual a mãe que me gostaria como genro? Tenho sorte, pois Linda é órfã, assim não tenho que me preocupar, não é?
- Me desculpe filho, tenha uma boa noite.
A Sra. Medeiros desligou sem ao menos deixar AJ responder.
Quando ele iria parar de agir como uma criança quando o assunto era Cecília? Ele havia sido mal educado, ele sabia disso, mas toda aquela conversa o deixara nervoso.
Ele sabia que não era o homem certo para Cecília, ninguém precisava ficar esfregando isso em sua cara. Afinal, o que ele sentia por Cecília era puro e simples desejo e eles estavam realmente anos-luz de distância, não somente na idade, como sua tia Joyce dissera, mas
Deus, ele sabia de tudo isso, mas como aceitar que Cecília não podia ser sua? Como imaginar outro homem que não fosse ele, tocando-a?
Nesse instante o seu celular vibrou, olhou para o identificador de chamadas era o celular de seu pai, problemas na empresa, era só o que faltava para completar o seu dia:
- Olá, papai, tudo bem?
- Boa tarde filho. Já em casa?
Apesar de se sentir estressado e cansado como nunca se sentia, ouvir a voz de seu pai sempre era muito bom. Seu pai, um homem vigoroso de 58 anos, sempre fora seu herói, mentor, inspirador. Era um homem forte, forjado no trabalho duro do campo, na terra seca do Texas. Era um homem que acreditava nas tradições, no amor a família, na honestidade nos negócios e na importância dos amigos. Era um homem franco até demais, dando a impressão para as pessoas que não o conheciam, que era um homem rude, severo, quando na verdade era um homem com um grande coração, por isso e por outras qualidades e defeitos, era sempre bom conversar com ele:
- Sim, decidi vir mais cedo. Ainda estou com o fuso horário de Londres na cabeça e não estava me sentindo disposto para continuar no escritório. Tenho certeza que depois que tiver uma boa noite de sono, estarei inteiro novamente.
- Claro filho, não liguei para você poder se justificar. É um assunto um pouco mais delicado do que isso.
Ah, não, não seu pai...
Será que as pessoas não notavam que ele já era um homem feito, que coisa era essa agora dos outros se intrometerem em sua vida daquela maneira?
- Pelo silêncio devo imaginar que você deva saber do que se trata, não é mesmo?
- Creio que sim, recebi uma ligação estranha de tia Joyce.
- Ah, então ela se adiantou. Chegou a pedir para sua mãe para que eu falasse com você. Então, eu vou lhe pedir, mesmo sem achar necessário, afinal você não é mais um moleque. Apesar de eu achar que você estivesse se comportando como um adolescente com os hormônios em ebulição nesses últimos anos, mas agora apesar de achar que você está se precipitando com essa inglesa, parece que você irá se assentar.
- Pai, eu...
- Eu ainda não acabei AJ, já que estamos tendo essa conversa, eu gostaria que você soubesse que não me orgulhei muito do seu comportamento nesses últimos anos, mas eu sou só seu pai e não podia me intrometer em sua vida. Você conquistou um harém de causar inveja a qualquer sultão, nunca era visto duas vezes com a mesma mulher e o povo fala filho. Para alguns, você foi um herói, mas para outros, você estava se comportando como um devasso. Tive medo que na hora que você decidisse se casar, não conseguisse achar uma moça que o aceitasse como marido, devido sua fama. E agora essa sua fama, lhe arranjou um problema, sua tia e sua mãe têm medo que você sucumba ao charme de Cecília e depois a magoe, pois de acordo com a mãe dela, você é a obsessão dessa menina desde que ela usava fraldas.
AJ ouvia o pai e apertava os olhos com os dedos, ele realmente estava cansado e jamais imaginou que seu pai soubesse de suas “conquistas”, não que achava que tivesse feito algo vergonhoso, afinal as mulheres consentiam em sair com ele, ele nunca obrigara ninguém, mas ouvir o pai pela primeira vez dar a sua opinião sobre o assunto não o estava agradando, fazia-o sentir-se como realmente um adolescente pego com uma revista masculina no banheiro.
- Pai! Eu já entendi, tia Joyce foi bem explícita, para que eu fique longe de Cecília, mas é Ciih, lembra...
- Eu sei, eu sei, mas você já a viu, não viu? Ela está... Crescida e ela se transformou numa mulher que todo homem vem a desejar para si um dia...
- Eu juro que não estou ouvindo isso, eu não vou ouvir... – AJ não sabia se sentia enojado, ou possesso.
- Está bem, mas filho fique longe de Cecília. Não quero que a machuque, ela não é como as mulheres daí, ela não é uma mulher que você poderá descartar. E eu não vou perder uma amizade de uma vida inteira, porque você não soube controlar seus hormônios.
- Como você mesmo disse, não sou mais um moleque, eu estou com 35 anos de idade, sou quase um idoso – a voz de AJ tornara-se amarga – agora eu preciso desligar, pai, preciso descansar, amanhã tenho que exercer a minha função de presidente de umas das maiores exploradoras de petróleo dos Estados Unidos e que por acaso cuido desde que tinha 23 anos.
- Já entendi filho, sei que você está se sentindo ofendido, mas eu precisava falar, apesar de saber que há muito tempo é um homem, para mim, assim como para todos os pais, os filhos nunca crescem. Só mais uma coisa: você tem certeza sobre esse seu casamento, você conhece a moça há tão pouco tempo, não seria mais pru...
- Pai, não, por favor, não hoje. Terei o maior prazer de discutir esse assunto com você outra hora, mas não hoje.
- Tudo bem, boa noite, AJ...
AJ hesitou por um instante e então falou:
- Pai e se eu... E se o que eu sentisse em relação à Ciih...
- Filho, deixe-a em paz, você é mais velho que ela, mais experiente. Cecília precisa de um rapaz da idade dela, vocês foram criados como irmãos, seria até mesmo estranho se vocês ficassem juntos. E eu não quero confusão na nossa família...
- Boa noite, pai!
Dessa vez foi AJ que desligou sem esperar resposta, precisava livrar seu corpo, sua mente, sua alma e tudo que mais que estava impregnado com Cecília. A família dela não o aprovava, o pai pedira para afastar-se, esquecer, relevar, deixar em paz, esses seriam seus lemas em relação à Cecília de agora em diante.
AJ levantou-se resoluto, levando sua taça de vinho, foi em direção à sala branca, que na verdade era a sala de música, chamada assim por ser toda branca.
Ao canto dessa sala, próximo a portas francesas que levavam a uma varanda, havia um piano de calda branco, ao lado do piano havia dois violões brancos em seus suportes. Num armário, branco, do lado esquerdo havia um violino numa caixa de madeira aberta. Ali também havia uma lareira em mármore branco, com anjos em jade adornando o aparador, ao lado da lareira um espelho do chão ao teto com uma moldura dourada, em frente à lareira havia um conjunto de sofás de dois lugares brancos de couro e várias almofadas em tons de verde. Entre os sofás um tapete alto branco e macio cobria o chão de madeira, também branco.
Sentada em um dos sofás estava Linda, olhando para fora admirando por certo a maravilhosa vista. Estava descalça com as pernas sobre o sofá. Usava uma calça pantalona de tecido quase transparente de cor azul, com um top justo também azul. AJ admirou sua beleza, sem que ela notasse e também constatou sua total falta de interesse por essa beleza.
Tinha que se interessar! Ela era linda!
Aproximou-se devagar para não assustá-la e sentou-se a seu lado:
- Ah, querido, que surpresa. Achei que chegaria mais tarde.
Ela aproximou-se de AJ e tocou de leve seus lábios. AJ abaixou a taça até o chão e aprofundou o beijo. Sentiu Linda render-se a ele. Ela passou os braços por seu pescoço, aproximando mais o contato de seus corpos. Ele levantou a mão e acariciou o seio de Linda sobre o top, continuou beijando-a, provocando-a, chegou a ouvi-la soltar um pequeno gemido, o que era uma novidade, mas infelizmente nada, nada aconteceu com ele. A única coisa que pensava era que Linda, não era Cecília.
Droga, droga, droga!
Ele afastou-se rapidamente de Linda, levantando-se do sofá, apertando os olhos com a mão. Pensando que aquilo não era certo, não era certo enganar a mulher bela e meiga que estava diante dele. Ouviu Linda perguntar:
- Qual o problema, AJ? Eu fiz algo errado?
Ele sentou-se ao lado dela, vendo a tristeza em seus olhos, mentiu:
- Claro que você não fez nada de errado, é que a Sra. Bishop ainda não se recolheu e não quero que ela nos pegue fazendo amor no sofá, não é mesmo?
Linda sentiu que ele mentia, mas não disse nada. Ela notara no restaurante que AJ mal conseguia tirar os olhos de Cecília, ao contrário do que imaginou não viu em nenhum momento a moça flertar com ele abertamente. O maior problema para Linda estava justamente aí, Cecília tinha um charme natural, não precisava se esforçar para seduzir. Mas ela tinha que fazer alguma coisa, não podia perder seu arco-íris com o pote de ouro no final. Nem que tivesse que seduzir AJ, interpretando o papel de sedutora fatal! Não o perderia para uma menina rancheira!
AJ pensava que como ficar diante de Cecília apenas por duas horas, poderia tê-lo afetado tanto? Já havia feito amor com mulheres antes, mesmo quando não sentia toda aquela vontade, mas agora, não conseguia ficar excitado, não conseguia imaginar fazer amor com Linda, pois sabia que quando a tocasse sua mente o levaria até Cecília.
Isso era loucura! Não, não era loucura, era aquela velha obsessão pelo o que não podemos ter. O gosto pelo proibido, não tinha outra explicação.
Deus, eu preciso levar minha vida adiante, não posso viver mais em função de algo que aconteceu há cinco anos, com uma menina que podia ser minha irmã mais nova. Ficar pensando em uma mulher que a própria mãe acha que não sirvo para ela...
Sem AJ estar preparado, Linda agarrou-se a ele, lhe deu um beijo de tirar o fôlego e disse num sussurro rouco:
- Mande a Sra. Bishop se recolher, estarei te esperando no quarto.
E saiu da sala desfilando.
AJ já não entendia mais nada. Quem era aquela mulher que o beijara de forma apaixonada? Linda não era assim. E ele não queria que ela fosse assim, não hoje, não agora, não com todos esses pensamentos confusos em sua cabeça.
Ele foi para a cozinha, não para dispensar a Sra. Bishop que já se recolhera a seus aposentos, mas tomar o resto do vinho que estava na geladeira, quem sabe assim estaria embriagado o suficiente quando fosse para o quarto. Tirou o vinho da geladeira e tomou grandes goles da garrafa, sentiu o liquido queimar sua garganta e seu estômago vazio, pois sua última refeição havia sido o almoço. Sabia que em pouco tempo ele estaria fazendo efeito, pois AJ não era um grande bebedor, a última vez que ficara bêbado fora...
Ah, não! De novo Cecília...
Tomou o resto do vinho. E de um nicho no armário da cozinha, pegou outra garrafa, abriu-a e sem pensar tomou mais meia garrafa do gargalo e sentiu que a bebida começava a fazer o seu milagre, já estava se sentindo mais corajoso, mais leve, com seus pensamentos mais anuviados.
Saiu da cozinha, passou pela grande sala de jantar, levando consigo a garrafa de vinho, bebendo um gole a cada passo, seguiu e passou em frente à sala branca, entrou no corredor decorado com fotos dele com a família em molduras douradas, passou em frente à biblioteca e também seu escritório, a porta de um banheiro e entrou na próxima porta, onde era a suíte principal, o seu quarto.
As cortinas estavam fechadas, a única luz acesa, era a do abajur ao lado da cama, ele conseguiu ver Linda deitada na grande cama King size, seu corpo já nu, branco, contrastando com o edredom negro.
Entrou já meio cambaleante, fechou a porta, pensando com ironia que dessa vez era ele que seria usado, como tantas vezes usara as mulheres nesses últimos cinco anos.
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