segunda-feira, 12 de abril de 2010

FIC Meu Primeiro e Único Amor CAP 3

- Minha nossa, Janice, eu não posso ficar fora um dia que tudo vira um caos? Perguntou AJ, apertando os olhos em um sinal de cansaço. Esse era um gesto que acompanhava AJ desde criança, quem o conhecia bem, sabia que quando ele fazia esse gesto algo o preocupava.

- Parece que sim, Sr. Mclean – respondeu Janice Smith, secretária anteriormente de pai de AJ e agora dele.

- Pode ir, Janice, termine de enviar os e-mails e, por favor, não quero ser incomodado por ninguém, anote os recados que entrarei em contato após o almoço, sim?

- Pois não.

Janice levantou-se e saiu do escritório deixando AJ concentrado no trabalho, havia ficado fora apenas três dias, mas parecia um século. Estava lendo um esboço de um contrato, quando o telefone tocou. Ele tentou ignorar, mas quem consegue ignorar um telefone tocando?

Ele não falara para Janice que não queria ser interrompido, que droga! – pensou antes de atender nervoso:

- Janice, eu não...

- Me desculpe senhor, mas é... Sua noiva, como não sei se sua ordem a incluía decide perguntar-lhe.

Repetindo seu gesto costumeiro, apertou os olhos, pensando:

“Deus, o que será que ela quer! Onde estava com a cabeça pedindo-a em casamento e trazendo-a para cá?”

- Pode passar Janice.

Depois de um click característico, a voz melodiosa, com aquele sotaque inglês que a princípio fascinara AJ, soou:

- Olá, querido, me desculpe, não queria incomodá-lo, somente gostaria de saber se você poderá almoçar comigo?

- Olá, Linda. Desculpe-me, mas almoçarei aqui mesmo no escritório – AJ estava se controlando e manter a voz doce, quando na verdade, sua vontade era simplesmente responder um sonoro não, mas tinha que se lembrar a todo instante que ela fora escolha dele, ela não tinha culpa se era somente mais um negócio para AJ.

- Então, tudo bem, eu arrumo algo para fazer, bom trabalho querido.

- Linda, eu... – ah, nossa como ela era compreensiva, compreensiva demais para seu gosto, pensou AJ – vamos fazer o seguinte, mandarei Gómez buscá-la para almoçarmos juntos, OK?

- Ah, amor, obrigada, tem certeza que não atrapalharei?

Ah, Deus essa mulher era um tédio, pensou AJ. A vida inteira ele vivera com mulheres fortes, de repente escolhera para esposa uma meiga e dependente.

- Não, querida, não atrapalhará.

- Então, estamos combinados. Sinto tanto sua falta querido, desculpe-me se insisto em estar com você.

Ah, eu acho que vou vomitar.

- Também sinto sua falta – disse AJ automaticamente. – Gómez passará para pegá-la daqui mais ou menos duas horas e meia, tudo bem?

- Estarei esperando. Um beijo, até daqui a pouco.

- Outro Linda.

Desligando o telefone AJ sentiu-se mal, apesar de já ter mentindo muitas vezes para outras mulheres, fingir esse sentimento que não existia para Linda era a pior das tarefas, mas era preciso.

Estava com 35 anos, quase trinta e seis, precisava constituir uma família. Uma de suas paixões eram as crianças, queria filhos, muitos, de preferência e sua família tradicionalista, ficaria chocada com a idéia de AJ ter filhos e não ter uma esposa.

Quando ele fora apresentado a Linda por sua irmã, ele viu nela uma boa candidata. Ela era linda, elegante, refinada, discreta, educada, daria uma ótima esposa para alguém na posição dele e tinha certeza que seria uma excelente mãe. Apesar de ela ser dependente, sem vigor e melosa demais.

Como de costume, apesar de já vislumbrá-la como uma possível candidata a esposa, conseguira levá-la para cama, sem muito esforço. Ele tinha esse dom, aprimorado com eficácia nos últimos 5 anos de caça. Sabia apertar os botões certos, no momento certo e as mulheres achavam que a idéia de fazerem amor, amor não, sexo, era delas. Claro, que sua aparência e seu status de solteiro milionário ajudavam muito, mas não podia descartar suas habilidades de conquista.

E o que mais o atraíra em Linda, foi sua falta completa de habilidades na cama e seu quase desinteresse pelo assunto. Todas as vezes que eles haviam transado e foram poucas e mais do que suficientes para AJ, ele havia dado o primeiro passo, como se ela esperasse pacientemente a vontade dele se manifestar, não tendo assim necessidades próprias.

Não que ela fosse de todo mal, mas parecia estar o tempo todo se controlando, sem se soltar e quando ele pedira para ela relaxar, se deixar levar, ela dissera que nunca havia estado tão relaxada em toda sua vida, que não conhecera um amante mais fabuloso ou habilidoso. Por sua experiência com mulheres e ele já tivera muitas, ela realmente alcançava o clímax, mas era de uma forma tão discreta, silenciosa e calma que ele chegara a ficar frustrado e toda aquela imobilidade, quase, bem, quase o fizera falhar. E por mais incrível que possa parecer, esse foi o ponto alto para pedi-la em casamento, sabia que daí não nasceria uma grande paixão, apesar de ela ter outras qualidades para fazer um homem se apaixonar, AJ sabia que ele não seria fisgado, então poderia sair do relacionamento intacto, sem se machucar, caso fosse necessário, no futuro, um divórcio. Para ele esse casamento não passava de mais um contrato a ser assinado.

Deixando os pensamentos de lado, ele pediu para Janice ligar para Gómez para buscar Linda na hora combinada. Passado alguns minutos, Janice ligou de volta dizendo que Gómez já tinha um compromisso com a irmã dele para o almoço. E perguntou se poderia mandar outro motorista no lugar. AJ concordou e voltou ao trabalho, mas o pensamento que tinha algo mais, no simples pedido da irmã o estava incomodando. Passado mais de uma hora, AJ mesmo trabalhando com afinco para por as coisas em ordem, sentia como se algo o estivesse oprimindo, mas o que poderia haver de errado em a irmã usar o motorista para o almoço: nada! Mas ele sabia que tinha algo errado, e quando seu cérebro lhe dava esse tipo de aviso era melhor não ignorar e resolveu ligar para a irmã e perguntar.

Discou o número de Mia e ficou esperando alguém atender.

- Maison Mclean, bom dia?

- Olá, Marcy, gostaria de falar com minha irmã, por favor.

- Bom dia, Sr. Mclean, ela está atendendo uma cliente, mas acho que poderá falar com o senhor.

- Obrigado.

AJ ficou aguardando e ouviu a voz da irmã.

- Estou ocupadíssima, AJ, tenho apenas um minuto.

AJ e Mia tinham um relacionamento excelente que os permitia ser sinceros e sem rodeios um com o outro, AJ foi direto ao assunto:

- Para que você precisa dos serviços de Gómez na hora do almoço? O que você está aprontando, querendo impressionar alguém?

Mia normalmente usava sua posição, ou as mordomias que disponha quando queria impressionar um novo namorado, que era quase sempre. Apesar que nos últimos meses, AJ não a havia visto com ninguém.

Sem nem ao menos pensar o que estava falando, pois não tinha o habito de mentir, principalmente para o irmão, disse sorrindo:

- Não, não tenho ninguém novo para impressionar, Gómez irá buscar uma amiga no heli... – ah, droga, pensou Mia, agora já falei.

- Mia você não mente muito bem – isso era estranho, não era? Ele sabia que tinha algo mais e jogou – se tem uma amiga sua vindo para a cidade de helicóptero e você precisa dos serviços de Gómez, por que não usar o heliporto daqui do prédio? Facilitaria muito a vida de meus empregados.

Que adiantaria tentar inventar uma mentira agora. Ciih me perdoe:

- AJ, Cecília está vindo para Dallas. E ficará comigo por uns dias.

AJ sentiu como se tivesse levado um soco no estômago, tal a contração no músculo.

Cecília, Ciih, Cília.

Mia percebeu o silêncio prolongado do irmão e por um instante pensou que talvez Cecília não fosse tão louca como ela pensava:

- AJ? Você ainda está aí?

AJ respirou fundo e tentou manter a voz o mais natural possível:

- Então, Cecília resolveu sair um pouco do haras? Bom para ela. E para que todo esse segredo, ela poderia muito bem usar o heliporto daqui, por que usar o do centro da cidade?

- Eu não sei – já tinha estragado tudo, mas não iria contar que Ciih pedira segredo sobre sua vinda.

- Tudo bem – AJ tentava manter sua voz calma, controlada e sem perceber soltou – eu almoçarei com Linda hoje, gostaria muito que Cecília a conhecesse, vamos almoçar juntos?

O que eu estou fazendo? – pensou AJ - Almoçar com Cecília?

- É, acho que tudo bem. Mas creio que Cecília já saiu de lá.

Cecília vai me matar, pensou Mia.

- Não há problema, mandarei avisá-la do almoço e para o piloto pousar aqui, então passarei no ateliê para pegá-la, tudo certo, Mia?

- Acho que sim – pensou Mia, achando que não estava nada certo.

AJ pediu a Janice para entrar em contato com o helicóptero e mudar sua rota. Feito isso AJ sabia que não conseguiria voltar ao trabalho, levantou-se e foi até a janela panorâmica olhar a cidade.

O edifício de escritórios tinha sido idéia dele. O pai tinha um pequeno prédio com seus escritórios que cobria uma área boa no centro empresarial de Dallas, então AJ dera a idéia de derrubarem o antigo prédio e construírem um edifício comercial alto e moderno que abrigaria também outras empresas, que comprariam o espaço ou alugariam dando um lucro significativo a Mclean. O pai concordou e hoje eles tinham esse escritório que ocupava os dois últimos andares do edifício com uma vista magnífica de toda a cidade e ainda alugavam o restante dos andares a grandes empresas que pagavam muito bem para estarem instaladas com elegância e excelente localização.

Mas AJ não estava pensando no lucro e nem ao menos enxergava a paisagem. Ele estava pensando em Cecília.

Quando tudo mudara, quando Cecília deixou de ser sua quase irmãzinha para virar sua obsessão proibida.

Ele lembrava-se do dia que vira Cecília pela primeira vez, ela tinha cinco dias de vida, sua irmã já estava com seis meses na época. Ele considerou-se um garoto de sorte, que agora ele não tinha somente uma irmã, mas duas. E ela era linda, um bebê gorducho, todo rosado, com imensos olhos castanhos, sem cabelo.

AJ cuidara dela, realmente como a um irmão mais velho, assim como ele fazia com Mia, apesar de Mia sempre reclamar que ele era mais paciente, atencioso com Ciih. AJ não achava isso, sabia que tratava as duas igualmente e que Mia apenas tinha ciúmes.

E ele via suas irmãs crescendo, Mia tornando-se uma menina bonita, mas desengonçada, ela era travessa, exigente, mimada, enquanto Cecília era independente, determinada, amorosa, espontânea e cada dia mais linda.

AJ não entendia na época, por que às vezes, sentia um ciúme quase incontrolável de Cecília e o mesmo não acontecia com Mia. Hoje ele sabia a resposta.

Lembrou-se de quando ele estava para ir para faculdade, Cecília havia ficado na casa para dormir junto com a sua irmã. Ela acordara no meio da noite aos prantos, tanto ele como os pais dispararam para o quarto para ver o que houvera. Já na época ela não quis ninguém a consolá-la a não ser ele. Naquele dia AJ havia levado a namoradinha da época para o jantar de despedida que a mãe preparara e Ciih mesmo com tão pouca idade, dissera que o via indo embora com a moça que estava no jantar e não voltava mais para brincar com ela. AJ a consolara e a fizera dormir novamente. Depois desse dia, inconscientemente, AJ nunca mais levara mais nenhuma namorada para casa.

Lembrava-se da alegria da família quando ele voltava para passar as férias em casa e lembrava-se do sorriso luminoso que recebia daquela pequena menina.

Lembrou-se que mais ou menos aos doze anos, Cecília mudara com ele, ficando um pouco retraída com sua presença, quase envergonhada, na época ele já terminara as duas faculdades e voltara a residir na fazenda e ajudava o pai com os negócios. E não entendia como aquela menina que sempre fora sua sombra, agora mal conseguia olhá-lo nos olhos quando se falavam e mais uma vez ele não entendeu os sinais.

Mas nada o preparou para o décimo quinto aniversário de Cecília.

Todos os convidados a esperavam aparecer no salão de festas da casa dos Medeiros, quando a porta dupla foi aberta e Cecília entrou de braço dado com o pai. Foi como se AJ a visse pela primeira vez. Cecília usava um vestido tomara que caia coral, com um corpete que se ajustava perfeitamente a seu corpo, a saia era como um sino, que quando andava balançava graciosamente. Havia luvas até seus cotovelos da cor do vestido. Seus cabelos estavam presos num coque elaborado e ela trazia discretos brincos de diamantes e uma pequena tiara, também de diamantes.

Ele jamais esquecera aquela imagem. Apesar dele repetir mentalmente que ela estava somente com quinze anos, o desejo que sentiu por aquela pequena mulher o apavorou e todos os momentos vividos com Cecília ao longo dos quinze anos da garota passaram como um filme em sua mente naquele instante de contemplação, mostrando que ele realmente a tratara com predileção, como se a estivesse guardando, para um futuro com ele.

Ele ficara transtornado, sentia-se como um adolescente com sua primeira paixão, mas ele já era um homem de 30 anos, considerado como a um irmão para Cecília, era respeitado e amado pelos pais dela.

Ele tentara, mas não conseguira. Aonde Cecília ia, ele a observava.

Começara a beber. Ele nem se lembrava da última vez que havia bebido além da conta, mas ele necessitava esquecer, necessitava limpar sua mente das imagens de Cecília. Começava a se sentir como um pedófilo, um homem sem moral, sem escrúpulos.

Depois de várias horas e vários copos de champagne, whisky, coquetéis e mais alguma coisa que ele nem se lembrava, Cecília veio com aquele pedido absurdo para ensiná-la a beijar. Sua primeira reação foi querer procurar aquele tal de Matheo e mandá-lo para casa, mas antes dar-lhe uns bons socos na cara. Ele tentou controlar-se, ele tentou negar de todas as formas, mas a bebida e talvez a sua falta de decoro o empurrou para os braços, para os beijos de Cecília.

E em seus 30 anos, ele não havia beijado boca mais doce, nem sentindo tanta necessidade de ter alguém como ele sentira naquela noite e acabou se descontrolando por completo. Ele ainda lembrava-se do cheiro dos cabelos, da pele de Cecília. Deus, ela não podia ter somente quinze anos, pois já era perfeita para o amor. E quando ele acordou daquele sonho, seus pesadelos começaram.

Ele nunca se sentira tão baixo, tão sujo em toda sua vida! E ela dizia sem parar que o amava, que ela não era uma criança, que não era sua irmã.

Céus, como ele a magoara! Ele vira isso em seus olhos, ele sentira em suas palavras. Mesmo sabendo que o que fizera era mais que errado, ele não conseguia pensar em mais nada a não ser em ter mais e mais. Então, ele fugira dali, antes de cometer outro desatino. Precisava ficar longe de Cecília, claro que a bebida o transformara, primeiro, num homem corajoso que corria riscos, que aceitava os desafios, depois num covarde, que deixou uma menina de quinze anos, que ele amava mais que tudo, sozinha, para enfrentar além da desilusão, os convidados, os pais, as perguntas. Mas ele tinha medo dele, não sabia mais quem era no que se transformara, então ele fugiu e continuou fugindo por cinco anos. Longos cinco anos.

Ele tentou vê-la outras vezes, três para ser exato, mas cada vez que a via ele se lembrava do ocorrido e, ao invés, de sentir-se envergonhado, ele a desejava. Ele lembrava-se do cheiro dela em seus dedos que o acompanhou por toda aquela noite e se transformava em um animal, somente instintos e então ele corria, fugia. Mesmo por telefone, ele sentia aquele desejo e se odiava cada vez mais por isso.

Eu me sentia desprezível.

Mia tentou conversar com ele, mas ele não queria escutar, ele não precisava de sermões, sua consciência já o castigava o suficiente.

Então, ele se transformara num conquistador, saía com todas as mulheres que podia e por tantas vezes era a imagem de Cecília que vinha a sua mente. Tentara encontrar em todas; a mulher de sua vida, mas parecia que nenhuma estava à altura.

Ele sabia que se, se mantivesse a distância, Cecília iria esquecê-lo, então se mudou do haras e depois das tentativas frustradas de tentar estar perto dela, sem desejá-la, ele decidiu que não poderia mais vê-la, isso seria bom para ele e melhor para ela e foi o que fez.

Ele sentia que caso, no futuro, ele decidisse assumir esse desejo, pois sabia que era somente luxúria, estaria decepcionando, embaraçando pessoas que ele amava demais, seus pais, os pais de Cecília, Mia e a própria Cecília. E ele não poderia viver com o desapontamento, ou até o ódio que surgiria para com ele.

Agora fazia um pouco mais de três anos que não a via. Tinha poucas notícias dela, pois não queria saber e na maioria do tempo Cecília não existia. Mas bastou ouvir seu nome e saber que em menos de duas horas ela estaria na sua frente, que sua mente viajou e virou um turbilhão de emoções. Mexeu com ele, mais do que gostaria. Mas tinha que se sentir protegido. Com certeza, Cecília já o havia esquecido e ele estava noivo, noivo de uma mulher lindíssima, parecia seguro, agora, revê-la. E precisava de segurança, controle.

Cecília se sentia no meio de um vendaval, sua cabeça girava. Ela sentia ódio de Mia, por ter contado a AJ que ela estava a caminho. Sentia que ainda não estava preparada para vê-lo, mesmo depois de cinco anos se preparando para este momento. Mas mesmo assim, quando o piloto perguntou se poderia mudar a rota, ela concordara. Pois bem, estava indo direto na direção de AJ.

Bem, se fosse para começar a guerra, que começasse o mais rápido possível!

Não, mas ela nem conhecia sua oponente, como ela poderia agir, se não sabia com que armas lutar? Que seu amor a ajudasse, era só o que poderia desejar.

Gómez foi buscar Linda na hora marcada. Ela chegou estonteante, em um vestido creme de um tecido leve, que a deixava quase etérea, sua pele alva e sem manchas parecia brilhar. Usava sandálias altas, também na cor creme, mostrava os pés delicados.

Enquanto a observava, AJ pensou:

Fiz uma excelente escolha, ela realmente é belíssima.

Linda aproximou-se de AJ e pegando ambas as mãos dele, deu-lhe dois beijos, um em cada face, dizendo:

- Que bom vê-lo, amor, já estava com saudades.

Enquanto AJ a encaminhava até o confortável sofá de couro marrom, pensava consigo: Como uma mulher podia dizer estar com tantas saudades de seu noivo e lhe encontrar com tamanha frieza de ações?

Quando se sentaram, AJ disse:

- Bom vê-la também, Linda. Espero que você não se importe, mas almoçaremos com minha irmã e uma amiga de infância.

- Claro que não, adoro sua irmã. E quem é essa amiga de infância? – vendo a relutância de AJ em responder, completou divertida – não, não me diga, é aquele tipo de amiga que você não vê a um bom tempo e que quando eram crianças, você puxava suas tranças, rindo de suas sardas e aparelho dental e para minha grande agonia, ela se transformou no sonho de todo homem e hoje vou perdê-lo, acertei?

Sem pensar, AJ respondeu quase ríspido:

- Cecília nunca usou aparelho, ou tranças ou teve sardas, ela sempre foi... – maravilhosa perfeita – bonita e eu nunca fui um garoto que atormentasse crianças mais novas, muito menos por sua aparência.

- Desculpe-me, amor, estava apenas brincando – disse Linda quase num sussurro – desculpe-me foi uma brincadeira de muito mau gosto, afinal nem ao menos conheço sua amiga e jamais pensei que você pudesse ter sido cruel quando menor.

Mas por dentro, Linda desconfiou da reação apaixonada de AJ, havia algo mais nessa história, teria que ficar de olhos abertos.

AJ apertou os olhos com os dedos, como era seu costume e disse o mais controlado que pôde:

- Desculpe-me também, Linda – e com um velho clichê, continuou – estou estressado com o trabalho.

- Tudo bem...

Ela iria completar a frase quando o interfone tocou e a voz de Janice soou:

- Sr. Mclean, o helicóptero pousou.

AJ sentiu suas pernas bambearem, ele não tinha certeza que teria forças para ficar de pé, levantou-se mesmo sentindo todo seu corpo tremer, apertando o botão do interfone, disse:

- Obrigada, Janice, quando a Srta. Medeiros chegar, pode encaminhá-la a meu escritório sem anunciá-la.

- Sim, senhor.

Oh, Deus, ele precisava lembrar que era um homem de 35 anos de idade.

Um homem criado numa fazenda. Um cowboy durão.

Um empresário de sucesso.

Noivo. E que sua noiva estava ali, a seu lado.

AJ não sabia há quanto tempo não tinha uma reação como aquela. Os joelhos bambos, uma leve náusea, um formigamento no estômago, sem saber se a esperava de pé, ou sentado, se segurava à mão de Linda, ou passava os braços sobre seus ombros.

Porra, homem, controle-se!

Decidiu por sentar-se ao lado de Linda como estavam anteriormente.

Quando o helicóptero estava pousando, o medo tomou conta de Cecília. Ela não se sentia mais tão decidida, queria pedir para o piloto dar meia volta e levá-la para casa, onde estaria segura... E onde ficaria somente com seus sonhos de amor e... Ficaria sem AJ.

Precisava se controlar e pensava:

“Eu sou uma mulher forte, não, não posso vomitar agora. Ah, Deus estou tendo vertigem. Não! Como disse Mia, não sou uma mulher que desmaia.”

Nem ao menos notou que já estavam no alto do prédio, com o piloto já desligando a máquina. Cecília grudou no assento, com as duas mãos, quando o piloto ofereceu-se para ajudá-la a descer do helicóptero. Ela reparou que sua mala já estava ao lado dele.

Terrence a olhava com curiosidade, ela estava branca, agarrada ao assento, será que ela tivera medo do pouso, mas fora tão sossegado, bem ela era sua patroa, tinha que ajudá-la a sair dali.

- Srta. Medeiros, dê sua mão, venha vou ajudá-la a descer. Olha, já estamos no solo, não há mais nada a temer.

A voz calma de Terrence trouxe Cecília de volta do mundo dos devaneios, ela respirou fundo várias vezes e conseguiu que o enjôo passasse, ele não podia imaginar que o que, agora, ela mais temia, era o fato de estarem no solo. Pegando a mão do piloto que estava estendida, Cecília desceu e suas pernas bambearam levemente. Respirou mais uma vez e decidida, ajeitou o chapéu melhor na cabeça, empinou o queixo e encheu os pulmões de ar e soltou devagar.

Encaminharam-se para a escada que os levaria para dentro do prédio, Terrence carregando sua mala. Desceram as escadas, entraram num corredor luxuoso contendo em uma das paredes um grande espelho, Cecília olhou-se e aprovou o que viu, apesar de estar um pouco pálida, estava ao mesmo tempo com um brilho radiante nos olhos.

Ela veria AJ! Deus, que saudade!

Cecília nunca havia estado nos novos escritórios das empresas Mclean e sentiu-se orgulhosa por saber que parte daquilo tudo fora obra de AJ. Quando estava quase chegando ao escritório da presidência do grupo Mclean, indicado por placas em bronze no corredor, Cecília dirigindo-se a Terrence disse:

- Obrigada, Terrence – pegou sua mala da mão do rapaz e tirando algum dinheiro da bolsa, continuou – coma algo num lugar decente e depois você pode voltar para o haras, certo?

- OK, senhorita e boa estada na cidade.

- Obrigada, Terrence.

Pegou também seu celular que estivera desligado durante o vôo e mal o havia ligado, ele tocou. Era o telefone de sua casa, com certeza era sua mãe. Achou melhor atender e parou:

- Olá, mamãe.

- Você me atende com um “olá, mamãe”? – Joyce Medeiros não era uma mulher que gostava de subterfúgios, sempre gostara de sinceridade e um pouco de disciplina, já que com Cecília, não adiantaria tentar ser mais que um “pouco”.

Cecília então usou de sua melhor arma, respondeu todas as perguntas da mãe, que ela ainda não formulara, mas viriam:

- Sim, mamãe, estou em Dallas. Estava com saudade de Mia e vim vê-la. Não, eu não sou irresponsável, só achei que não precisava me explicar, já que vim ver uma amiga e estarei na casa dela, protegida, sã e salva. E me desculpe por não tê-la avisado antes de sair, por não ter cumprimentado Tio Harry e Tia Claire. Volto em no máximo em uma semana.

- Ah, garota, você sempre foi quase insuportável, insuportável e muito inteligente, mas dessa vez, a quem você está querendo enganar a mim ou a você? Creio que já tenho a resposta para essa pergunta também. Está tentando enganar a mim.

- Mãe...

- Não, Cecília me escute. Todos estes anos eu me mantive calada, sempre fingindo que não via, ouvia, mas eu acho que agora você passou um pouco dos limites. Por favor, filha, perca as esperanças, procure outra coisa que você queira e não consegue e dirija sua obsessão para este novo alvo. Ele está noivo, Santo Deus, o que você vai fazer raptá-lo e levá-lo para uma ilha para ver se ele nota você?

Cecília estava perplexa demais para dizer ou contestar alguma coisa. Será que seu amor por AJ, era assim tão explícito, ou ela somente não conseguira esconder sua paixão das mulheres que a haviam criado? Mesmo assim tentou dar uma de desentendida:

- Mãe, eu não sei do que a senhora está falando.

- Ah, não sabe? Então, eu como sua paciente mãe, irei explicar-lhe. Essa sua obsessão por um rapaz que é quinze anos mais velho que você, que sempre a tratou com um respeito fraternal e você confundiu seus sentimentos transformando-os numa paixão absurda de adolescente, só que agora você cresceu, tem que esquecer, não me envergonhe, Srta. Cecília Medeiros. Ele é e sempre foi um rapaz bom e íntegro para essa família, ele nunca a desrespeitou. Não o tente, Cecília, deixe-o em paz.

Cecília simplesmente se descontrolou, não bastava o fato que estava a poucos metros do homem que ela amava desde sempre e que não via há mais de três anos, a mãe tinha ainda que arruinar suas esperanças:

- Não o tente? Não o tente? Que tipo de mulher a senhora pensa que sou?

A mãe interrompeu:

- Uma mulher linda e desejável, que satisfaria e seduziria qualquer homem que quisesse, mas, filha, AJ não é para você...

- Por quê? Por que ele não serve para mim? – Cecília não entendia as idéias absurdas de sua mãe.

- Ele já é um homem experiente, vivido. Se não fosse essa diferença de idade e o fato de os dois terem sido criados juntos como irmãos e claro, fechar os olhos para algumas coisas que ele andou fazendo nos últimos anos, eu teria muito orgulho de tê-lo como genro, mas eu gostaria que você tivesse um relacionamento com uma pessoa de sua idade.

- Mãe, o que está acontecendo com você? São somente quinze anos, ele não é nenhum sexagenário, hoje em dia essa diferença não é nada e droga, ele não é meu irmão.

- Isso tudo pode ser a mais pura verdade para você, filha, que foi para a faculdade e viu coisas novas, diferentes, mas nós continuamos morando num haras, numa cidade louca por escândalos, nossos amigos e contatos são pessoas retrógradas, eu não sei o que as pessoas iriam pensar e o que isso refletiria nos negócios de seu pai e de seu Tio Harry. As pessoas por mais que escondem, ainda vivem de aparências. E eu também não queria que as pessoas pensassem que você foi somente mais uma na lista de AJ, querida. Eu amo aquele rapaz, a família dele é como se fosse a minha e ele como homem pode até se dar ao luxo de cometer esses deslizes, mas eu não queria que você fosse um desses deslizes.

- Meu Deus, jamais imaginei que a senhora fosse tão antiquada. E que negócio é esse de lista, deslizes, Mia nunca comentou nada comigo que AJ tenha feito algo que desagradasse aos pais.

- Como eu falei antes, para um homem o comportamento de AJ é totalmente aceitável. Mas não queria que minha filha estivesse na lista das conquistas dele. Cecília, nos últimos cinco anos, AJ conquistou e dispensou mais mulheres do que um homem pode ter em uma vida inteira. Bom para ele aproveitou tudo que tinha que aproveitar e agora vai se casar. O que me deu sossego todos esses anos, foi que ele sempre lhe respeitou, tenho certeza que ele jamais faria isso com você, mas se você aparecer na frente dele, se jogando em seus braços, como sei que é o que você pretende, tenho medo que ele esqueça que é seu irmão e...

- Mãe, AJ, não é meu irmão! – Cecília estava cansada dessa ladainha toda e saber que todos sabiam que AJ havia virado um Casa nova, não era uma coisa que a agradasse de ouvir.

- Cecília, volte já para casa. Ele está noivo, deixe-o casar com essa mulher.

- Não, mãe, não volto. Eu já estou bem crescidinha, você não acha? Eu quero, sempre quis AJ. Eu o amo mais do que você possa imaginar e sei que ele também tem sentimentos por mim.

- Ah, Cecília jamais imaginei que estaria viva para ver esse dia, o dia que não tive orgulho de ser sua mãe.

Sem dizer mais uma palavra, Sra. Joyce desligou o telefone. Cecília estava indignada, ela sempre soube que sua mãe era melodramática, mas desta vez, a mulher superou todos os limites.

As pessoas realmente não a entendiam, seu amor por AJ, era totalmente compreensivo. Ele fora a primeira figura masculina que ela tivera contato sem ser seu pai, primeiro ela se impressionara com o menino que sabia fazer tudo, que a havia tratado com carinho e atenção. Era normal uma criança se apaixonar por seu ídolo de infância, a única diferença é que enquanto crescia, o sentimento, sem que ela esperasse ou se esforçasse, modificou-se e transformou-se em amor.

Pensando com mais clareza, Cecília percebeu que talvez tenha idealizado demais esse amor, deixando-o crescer demais e como Mia dissera não dera chance para outro entrar, mas se daria mais uma chance, se dessa vez ela percebesse que AJ, não sentia nada por ela, amasse mesmo sua noiva, ela faria tudo para esquecê-lo e partiria para outra sem olhar para trás.

Sabia que seria difícil, amar AJ fora mais fácil, protegeu-a de outras desilusões, talvez tenha até sido isso, ela havia se protegido, para não sentir a dor que ela sentira no dia que se beijaram e depois ele fora embora, mas se não tentasse, se não o visse mais uma vez, jamais saberia a verdade, não é mesmo?

Cecília pensou:

Eu domo cavalos somente com palavras, esquecer um homem que não me quer será ainda mais fácil. E assim como eu sempre soube o que queria ser desde pequena, veterinária e encantadora de cavalos, eu sei, eu tenho certeza: AJ também me quer.

E que com toda essa disposição Cecília se encaminhou para os escritórios de AJ.

Como ela havia vindo por cima, ela não passou pela recepção que ficava em frente aos elevadores, somente passou por portas fechadas, outras abertas, onde ela via gente trabalhando, recebeu algumas olhadas indiscretas de alguns como já era o usual e outros não prestaram atenção a quem passava nos corredores. Quando chegou a frente de uma imponente porta de carvalho toda trabalhada sabia que chegara a seu destino. Mas não havia secretária ali. Deu uma batida de leve e entrou:

Entendeu o porquê de não haver uma secretária no corredor, ela entrou em uma elegante recepção, toda decorada com carpete alto marrom, sofás em couro creme, plantas espalhadas estrategicamente para agradar aos olhos e na frente de uma parede totalmente de vidro temperado que filtrava a luz do sol, deixando a sala clara, havia uma mesa de puro mogno, com uma mulher sentada, compenetrada em seu trabalho. Quando ela se levantou para recebê-la, Cecília percebeu que ela era elegante e sua idade impossível de calcular, não poderia saber se a mulher tinha 40, 50 ou 60 anos de idade, ela falou com voz calma e eficiente:

- Você deve ser a Srta. Medeiros, o Sr. Mclean a espera, dê-me sua bagagem, pedirei a Gómez que a leve para o apartamento da Srta. Mclean, onde ficará hospedada, correto?

- Sim, obrigada – disse Cecília, mas achou que sua voz não sairia, o fato de somente uma porta a estar impedindo de ver AJ, fez desaparecer com todas as suas certezas e quase a fez recuar.

Mas sentiu suas pernas seguindo a secretária até uma porta idêntica à outra. A secretária abriu a porta e fez sinal para que entrasse. Cecília hesitou somente por alguns segundos e entrou.

Cecília não reparou na decoração dessa sala, a única coisa que viu foi o homem de sua vida, vindo em sua direção, mas ela não conseguiu se mexer, somente ouviu a porta se fechando atrás de si.

Oh, minha nossa, como alguém podia ficar cada vez mais bonito, mais charmoso.

AJ estava vestido com um terno, feito com certeza sob medida, azul escuro, pois nenhum terno pronto se ajustaria tão bem em ombros tão largos e cintura estreita como a dele. A camisa era azul turquesa que deixava seus olhos dessa cor. A gravata era lisa de seda, também azul marinho.

O intenso bronzeado de antes, adquirido pelo trabalho ao ar livre, não existia mais, agora que ele era um empresário da cidade, mas sua pele ainda não adquirira o tom pálido dos homens de escritório, continuava levemente dourada.

Seu rosto continuava confortavelmente o mesmo, lindo, marcante, somente algumas ruguinhas novas perto dos olhos.

Ah, os olhos...

Os olhos castanhos E Cecília viu naqueles olhos que o rapaz que ela amou havia mudado, havia ali amadurecimento, perspicácia, eficiência e malícia. O menino do campo, que ela vira também no homem de 30 anos, havia desaparecido. Mas Cecília adorou esse novo homem, como ela adorara todas as mudanças que vira acontecendo em AJ em toda sua vida e também percebeu que esse homem, que deveria passar confiança e firmeza a seus clientes, concorrentes e empregados, tremia um pouco ao chegar perto dela, demonstrando claramente que ela o também abalava.

Ela ainda não havia se movido de perto da porta.

AJ levantou-se de um salto quando viu Cecília adentrar em seu escritório e percebeu pelos anos que passara tão perto da menina e que o fez a conhecer tão bem, que Cecília não caminharia até ele, ela estava paralisada, como a vira em poucas ocasiões, pois Cecília dificilmente fraquejava. Caminhou lentamente até ela, para não se denunciar, pois parecia que suas pernas continham chumbo e ele não conseguiria se mexer, seu estômago estava contraído e a respiração suspensa.

Cecília não mudara nada, mesmo assim mudara muito.

Deus como isso era contraditório!

Diante dele ainda via aquela menina que ele contemplara com 17 anos e a de 15 que estivera em seus braços, mas agora ela era uma mulher e que mulher! Suas curvas mais femininas do que nunca.

Ela também estava mais alta.

Suas pernas, moldadas naquele jeans justos, estavam mais torneadas do que antes. Quantas vezes AJ, não a viu cavalgando, conduzindo o cavalo somente com aquelas pernas deixando as rédeas soltas. Deus, o que aquelas pernas não fariam conduzindo um homem? AJ sentiu uma fisgada na virilha, precisava desviar os olhos daquelas pernas, mas isso não o ajudou. Parou na barriga lisa, com a cintura fina amostra e viu um pequeno diamante em seu umbigo.

O que essa mulher pretendia? Deixá-lo de quatro e fazê-lo implorar para tê-la em seus braços?

Ah, vou beijá-la, eu sei que vou, pensou AJ. Olhando a boca de Cecília, aquela boca que ele sabia ser tão doce, agora mais amadurecida, talvez agora mais generosa, se isso fosse possível.

Seus olhos continuavam os mesmos, castanhos como um pôr do sol e o que ele viu ali, também o abalou, havia o amor e admiração, que ele já vira tantas vezes.

Mas ao se aproximar mais, se sentiu realmente rendido. O cheiro, o mesmo perfume, que o acompanhou durante esses cinco anos. O perfume que o levava para casa, que o arremetia para boas lembranças e também para inúmeros pesadelos, os quais, o fazia acordar suado e extremamente excitado. Que o fazia procurar desesperadamente a satisfação em outros braços, em outros corpos e parecia nunca ser o bastante.

E aquele perfume estava ali agora, não era nenhum perfume conhecido ou famoso, era simplesmente, o cheiro de Cecília.

Eu estou perdido!

1 comentários:

Anônimo disse...

PRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII TU QUER ME DEIXAR LOKA GURIA?? OO

AMEI ESSA FIC, VOU CONFESSAR QUE É A PRIMEIRA FIC Q LEIO .... CE TA DE PARABENS...ÓTIMAAA... E OS DETALHES ENTÃO..NUSSSSSSSSSSSSSSSSS...KKKKKKKK



BJUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU

 
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