segunda-feira, 12 de abril de 2010

Fic After The Night Cap 10

Bella pendurou o telefone com uma expressão de perplexidade no rosto. Aquela era a sexta vez que chamava o senhor Pleasant e não obtinha resposta. O detetive não tinha secretária, essa função a desempenhava sua esposa, e quando esta morreu não tinha tido coragem para substituí-la. O senhor Pleasant tinha deixado o hotel, ou, melhor dizendo, a chave tinha ficado em cima da mesinha de cabeceira e suas coisas tinham desaparecido. A habitação tinha sido pago adiantado, assim que aquilo não tinha nada de insólito. Ela mesma o tinha feito mais de uma vez.

O que não era normal era que não a tivesse chamado, havendo dito que o faria. Não podia acreditar que tivesse esquecido. Se não ocorresse algo mau, a teria chamado. Dado seu estado de saúde, Bella temeu que estivesse ingressado em um hospital e se encontrasse muito doente para ligar. Inclusive podia estar morrendo, e ela não se inteirar. A idéia de uma morte solitária lhe oprimiu o peito. Pelo menos deveria haver ali alguém que lhe agarrasse a mão, como tinha feito ela com o Scottie. Além de estar tão preocupada com ele, não sabia o que tinha encontrado nem a quem tinha interrogado. Teria que continuar sozinha, sem a vantagem de saber que respostas tinha obtido o detetive.

Não tinha uma idéia clara de como abordar o assunto, que pistas procurar nem que perguntas fazer, caso que alguém quisesse lhe falar. As únicas pessoas que talvez respondessem a suas perguntas seriam os recém chegados, e estes não estariam em situação de saber nada. Os antigos residentes sim saberiam, mas obedeceriam ao decreto do Nick de não ter relação com ela absolutamente.

Ocorreu-lhe uma idéia, e sorriu ao imaginá-lo. Pelo menos havia uma pessoa que falaria com ela... A contra gosto, mas falaria.

Passou-se uma escova pelo cabelo, recolheu-se a grossa mata em um coque alto e a prendeu com uns grampos deixando várias mechas soltas ao redor do rosto e da nuca. Até aí chegava sua arrumação. Poucos minutos depois de tomar a decisão, estava já de caminho a Nashville, à loja do Morgan.

Tal como esperava, a senhora Morgan a descobriu nada mais entrar pela porta. Bella a ignorou e se dirigiu para a seção de lácteos, que se encontrava ao fundo do estabelecimento, a salvo do agudo ouvido da mulher. Não passou muito tempo antes que Ed se aproximasse pelos corredores com passo pressuroso e a cara de boi congestionada tanto pela indignação como pelo esforço físico.

—Acredito que não entendeu bem — disse ofendido, detendo-se na frente de Bella. —Saia de minha loja. Aqui não pode comprar nada.

Bella não se moveu do lugar e lhe obsequiou um sorriso sereno.

—Não vim aqui para comprar. Quero lhe fazer umas perguntas.

—Se não sair, chamo o xerife — replicou o lojista, mas seu semblante mostrava uma expressão de nervosismo.

O fato de mencionar ao xerife fez que ao Bella lhe encolhesse o estômago, provavelmente a reação que o outro esperava. Pôs-lhe rígida a espinha dorsal, e se obrigou a si mesmo a não fazer caso da ameaça.

—Se responder a minhas perguntas — disse em voz baixa, — partirei em questão de minutos. Se não, sua esposa vai se inteirar de mais do que você quer que ela saiba. —Já postos a proferir ameaças, ela também sabia expor as suas.

O homem empalideceu e lançou um olhar de inquietação à parte dianteira da loja.

—Não sei do que está falando.

—Bem. Minhas perguntas não têm que ver com minha mãe. Quero interrogá-lo a respeito do Bob Carter.

Ele piscou surpreso por aquele giro.

—Do Bob? —repetiu.

—A quem mais estava vendo naquele verão? —quis saber Bella. —Sei que minha mãe não era a única. Recorda alguma fofoca?

—Por que quer saber isso? Não importa a quem estivesse vendo, porque com quem fugiu foi com Renée, e com nenhuma outra.

Bella. consultou seu relógio.

—Calculo que tem uns dois minutos antes que venha aqui sua esposa a ver o que está passando.

Ele a olhou furioso, mas disse a contra gosto:

—Acredito que se via com Andrea Wallice, a secretária do Alex Mclean. Alex era o melhor amigo do Bob. Mas não sei se isso é verdade, porque ela não pareceu muito doída quando Bob se foi. Havia uma garçonete do Jimmy Jo's, não recordo como se chamava, mas Bob a via de vez em quando. Já não está ali. Também ouvi contar que tinha um caso com a Yolanda Foster. Bob se movia muito. Não me lembro exatamente de todas as mulheres com quem andava encalacrado.

Yolanda Foster Devia tratar-se da mulher do ex-prefeito. O filho de ambos, Lane, fazia parte do grupo de meninos que rondavam a Jodie quando queriam passar-lhe bem, mas não lhe falavam se a encontravam em público.

—Era de conhecimento geral? —perguntou Bella. —Havia por aí algum marido ciumento?

Morgan se encolheu de ombros e voltou a olhar para a parte dianteira do estabelecimento.

—Possivelmente soubesse o prefeito, mas Bob doava muito dinheiro para suas campanhas, de modo que duvido que ao Lowel Foster tenha vexado muito se inteirar de que Yolanda estava... Bom, arrecadando doações. —Esboçou um sorrisinho, e Bella pensou o muito que lhe desagradava aquele homem.

—Obrigado pela informação— disse, e deu meia volta para partir.

—Vai voltar por aqui? —quis saber o lojista, nervoso.

Ela se deteve e lhe dirigiu um olhar reflexivo.

—Pode ser que não — respondeu. —Me chame se lhe ocorrem mais nomes. —E a seguir saiu da loja com passo rápido sem sequer olhar à senhora Morgan.

Dois nomes, mais a possibilidade da garçonete desconhecida. Já era algo por onde começar.

Entretanto, o que a intrigava era que mencionou o melhor amigo do Bob, Alex Mclean. Esse era quem provavelmente teria as respostas a muitas de suas perguntas.

Os Mclean eram uma das famílias mais antigas e enriquecidas da zona, não no mesmo grau que os Carter, mas é que tampouco havia ninguém mais que estivesse a seu nível. Conhecia o sobrenome, mas não conseguia tirar a luz nenhuma lembrança deles. Ela só tinha quatorze anos quando partiu, e era mais introvertida que a maioria, pois se guardava para si o mais possível.

Somente tinha prestado atenção às pessoas que tiveram contato direto com sua família, e pelo que recordava, jamais tinha conhecido a nenhum dos Mclean. Entretanto, era provável que Alex ainda vivesse ali; além do caso do Bob Carter, as velhas fortunas tendiam a permanecer em um só lugar.

Foi até a cabine telefônica que havia no final do estaciona-mento e procurou os Mclean. O domicílio figurava como «Alexander James Mclean, advogado». Debaixo aparecia o número do Mclean e Anderson, advogados».

Imaginou que aquela era uma ocasião tão boa como qualquer outra, de modo que introduziu uma moeda na ranhura e discou o número do escritório de advogados. Uma voz musical respondeu ao segundo timbre.

Bella disse:

—Meu nome é Isabella Hardy. O senhor Mclean poderia me receber hoje?

Produziu-se uma minúscula pausa que lhe indicou que tinham reconhecido seu nome, e seguidamente disse a voz musical:

—Estará toda a manhã nos tribunais, mas pode recebê-la esta tarde à uma e meia, se estiver bom para você.

—Perfeito. Obrigada.

Quando desligou, perguntou-se se aquela voz musical pertenceria a Andrea Wallice, que era a secretária do senhor Mclean na época em que ocorreu tudo, ou se trataria de outra pessoa.

Dispunha de quase três horas por passar, a não ser que quisesse ir para casa e retornar de novo. O estômago fazia ruídos para lhe recordar que a torrada que comeu às seis e meia fazia muito que se esfumou. Não sabia se a atenderiam em algum dos restaurantes da cidade ou se a influência do Nick alcançava também a aqueles. Elevou-se de ombros. Nenhum momento era melhor que aquele para averiguá-lo.

Na praça havia um pequeno café. Nunca tinha estado nele, pensou enquanto estacionava o carro quase justo em frente da porta. Jamais tinha saído para comer até que foi viver com os Gresham e estes lhe mostraram as maravilhas dos restaurantes. O fato de pensar neles a fez sorrir enquanto entrava no café, fresco e na penumbra, e tomava nota mentalmente de chamá-los essa noite. Procurava manter o contato chamando-os pelo menos uma vez ao mês, e quase tinha passado esse tempo desde a última ocasião.

Os clientes escolhiam mesa, assim Bella escolheu uma vazia situada na parte posterior do estabelecimento. Aproximou-lhe com diligência uma moça, baixa e rechoncha, de rosto agradável.

—O que quer para beber?

—Chá doce. —Dava-se por feito que o chá era gelado, a não ser que as pessoas especificassem que o queria quente. Normal-mente só terei que escolher entre doce e não doce.

A garçonete saiu disparada pelo chá, e Bella jogou uma olhada ao cardápio de plástico. Acabava de decidir-se pela salada de frango quando alguém se deteve frente a sua mesa.

—Você é Bella Smith?

Ficou tensa, perguntando-se se lhe iriam dizer que fosse embora.

Levantou a vista para a mulher que estava de pé.

—Sim, sou.

A mulher lhe resultou vagamente familiar, olhos castanhos, cabelo castanho e uma cara de mandíbula quadrada e covinhas nas bochechas. Era baixa, de um metro sessenta mais ou menos, e possuía o humor fresco de uma animadora de futebol.

—Já me parecia. Passou muito tempo, mas resulta difícil esquecer essa cor de cabelo. —A mulher sorriu. —Eu sou Halley Bruce... Bom, agora é Johrison. Eu estava em sua classe no colégio.

—Naturalmente! —Nada mais ouvir o nome, veio-lhe à memória aquele rosto. —Lembro de ti.

Que tal está?

Halley nunca tinha sido amiga dela, não tinha amigas, mas tampouco tinha tomado parte em nenhuma das cruéis burla que suportou Bella. Ela, pelo menos, tinha sido atenta.

Entretanto, agora a expressão de seus olhos era abertamente amistosa.

—Gostaria de se sentar comigo? —convidou-a Bella.

—Só um minuto — respondeu Halley deslizando-se no assento em frente. A garçonete retornou trazendo o chá de Bella e tomou o pedido da salada de frango. Quando estiveram sozinhas outra vez, Halley disse com um sorriso irônico: — Este lugar é propriedade da família de meu marido, e eu o dirijo. Espero uma entrega de um momento a outro, e terei que fiscalizá-la.

Como Nick já sabia da agência, não havia motivo para não falar dela, assim Bella disse:

—Eu tenho uma agência de viagens em Dallas, e na realidade deveria haver dito a minha gerente que ia estar aqui, mas esqueci de chamá-la antes de sair de casa.

Uma vez ficaram estabelecidas suas respectivas posições sociais e econômicas, sorriram uma à outra como iguais. Bella experimentou uma cálida quebra de onda de prazer. Inclusive depois de haver ido viver com os Gresham e assistir ao colégio, não tinha tido nenhuma amiga; seguia sendo muito introvertida e estava muito traumatizada para fazer amizades. Não foi até que entrou na universidade quando começou a ter amigos, e a aceitação natural de suas companheiras de quarto supôs uma revelação. Tímida ao princípio abriu-se rapidamente e começou a desfrutar de tomar parte nos rituais femininos que tinham estado fechados para ela desde menina: as noites inteiras de bate-papo, as risadas e brincadeiras, a troca de roupas e maquiagens, o frenesi de arrumar-se pelas manhãs, o compartilhar o espelho do banheiro com a companheira de quarto.

Participou pela primeira vez na interminável análise do turvo mistério que eram os homens, ou, mas bem escutava sorrindo ligeiramente pela ingenuidade de suas amigas. Embora naquele ponto muitas de suas companheiras já tinham tido relações sexuais e Bella ainda era virgem, sentia-se imensamente maior, mais experimentada. Elas ainda viam os homens através do cristal rosa do romance, enquanto que ela não tinha aquelas fantasias.

Mas a amizade feminina lhe tinha suposto uma sorte especial, e olhou ao Halley Johrison com a esperança de encontrar a mesma vibração nela.

—Aonde te mudou, quando se foi? —perguntou Halley em um tom de naturalidade que resplandeceu por cima das circunstâncias nas quais se partiu de Nashville.

—A Beaumont, Texas. Depois mudei para Austin, onde comecei a universidade, e mais tarde a Dallas.

Halley suspirou.

—Eu nunca vivi em outro lugar mais que este, nem acredito que o faça. Antes pensava em viajar, mas então foi quando me casei com o Joel e chegaram os filhos. Temos dois — disse, com um sorriso luminoso. —Um menino e uma menina. Tendo já um de cada, parecia um bom momento para parar. E você?

—Sou viúva — respondeu Bella. Seus olhos se escureceram com o véu de tristeza que sempre sentia ao falar do Kyle, morto tão jovem e tão inesperadamente. —Me casei nada mais terminar a universidade, e antes que passasse um ano ele morreu em um acidente de carro. Não tínhamos filhos.

—Isso é muito duro. —Na voz do Halley havia uma sinceridade genuína. —Sinto muito. Imagino o que seria perder ao Joel. Às vezes me põe furiosa, mas é minha rocha, sempre está quando o necessito. —Calou durante uns instantes, e depois o sorriso voltou para sua cara. —O que te traz outra vez a Nashville? Parece-me lógico ir-se de Nashville para viver em Dallas, mas não ao contrário.

—É meu lar. Queria retornar.

—Bom, não quero ser entremetida nem mal educada, mas em seu lugar Nashville seria o último lugar onde quereria viver. Depois do que aconteceu, refiro-me.

Bella lhe dirigiu um olhar rápido, mas não viu malícia alguma na expressão de Halley, tão somente certa atenção observadora, como se ainda não tivesse tomado uma decisão a respeito de Bella.

—Não foi um mar de rosas — repôs, e decidiu que podia ser tão franca como ela. —Não sei se o terá ouvido ou não, mas ao Nick Carter não vai gostar de lhe nada se inteirar de que me atendeste. —Imagino que está dizendo a todos os comerciantes que não quer que façam negócio comigo.

—OH, já ouvi sim — disse Halley, e sorriu abertamente ao mesmo tempo em que desaparecia parte da atitude anterior. —Mas eu gosto de decidir por mim mesma a respeito das pessoas.

—Não quero te causar problemas.

—Não me causará isso. Nick não é vingativo. —Fez uma pausa—. Já vejo que pode não estar de acordo comigo. Certamente que não quereria o ter por inimigo, mas não vai se voltar mesquinho só porque te tenha comido aqui uma salada de frango.

—Aqui todo mundo parece tomá-lo a sério.

—Possui grande influência — admitiu Halley.

—Mas não contigo?

—Eu não hei dito isso. É que me lembro de ti do colégio. Você não foi como as demais. Se, se tratasse da Jodie, bom... Não estaria aqui sentada, esperando sua salada de frango. Mas você pode vir quando quiser.

—Obrigada, mas se tiver algum problema, faça-me saber.

—Isso não me preocupa. —Halley sorriu quando a garçonete depositou o prato de frango sobre a mesa. —Se Nick tivesse a intenção de ficar em plano duro a respeito, haveria-o dito. Uma coisa que tem Nick é que um não tem que interpretá-lo entre linhas; diz sempre o que pensa, e pensa no que diz.

A secretária do Alex Mclean seguia sendo Andrea Wallice, conforme rezava a placa que havia em cima de sua mesa. A mulher que se sentava atrás da mesma poderia ser amplamente cinqüentona, levava cada um desses anos marcado no rosto, e o cabelo cinza e com um fino corte de menino. Ao olhá-la, tentando lhe subtrair uma dúzia de anos, Bella não imaginou como o tipo de mulher que perseguiria Bob Carter. Este tinha um gosto que se inclinava mais pelas mulheres chamativas, não por aquela tão discreta e de olhar abertamente curioso.

—Você se parece com sua mãe — disse por fim Andrea inclinando a cabeça ligeiramente ao estudar a cara de Bella. —. Com alguma ou outra diferença, mas em conjunto poderia ser ela, sobre tudo na cor do cabelo.

—Você a conheceu? —quis saber Bella.

—Só de vista. —Assinalou o sofá com um gesto. —Sente-se. Alex ainda não retornou do almoço.

Justo quando Bella tomava assento, abriu-se a porta e entrou por ela um homem esbelto e arrumado. Vestido de terno, uma raridade em Nashville, a não ser que um fora precisamente um advogado que se passou a manhã nos tribunais. Olhou a Bella e se sobressaltou visivelmente, logo se relaxou e um sorriso apareceu em sua boca.

—Você deve ser Bella. Deus sabe que não poderia ser ninguém mais, a não ser que Renée tivesse descoberto a Fonte da Eterna juventude.

—Isso foi o que pensei — disse Andrea, voltando-se para ele, e por um instante a expressão de seus olhos se fez patente. Bella se apressou a baixar a vista. Pelo que acabava de ver, duvidava muito de que Andrea tivesse tido relação alguma com o Bob, porque estava muito apaixonada por seu chefe. Perguntou-se se saberia o senhor Mclean, e com a mesma rapidez decidiu que não. Não havia nem rastro disso por sua parte.

—Entre — convidou Alex, acompanhando Bella a seu escritório e fechando depois a porta. —Sei que devemos lhe parecer mal educados ao falar assim de você. Perdoe. É que a semelhança é tão pronunciada, e entretanto, notando-se bem, as diferenças são óbvias.

—Pelo visto, todo mundo tem a mesma reação quando me vê pela primeira vez — admitiu Bella sorridente. Resultava fácil sorrir ao Alex Mclean. Era da classe de homens aos que ia refinando com a idade; sempre esbelto, ia emagrecendo inclusive mais com o passar dos anos. Seus olhos castanhos mostravam rugas de patas de galo, mas facilmente parecia estar à metade da quarentena em vez de ser já cinqüentão. Seu aroma era verde claro, fresco como a erva recém cortada.

—Por favor, sente-se — disse, e a seguir se acomodou em sua poltrona. —No que posso ajudá-la?

Bella tomou assento no sofá de couro.

—De fato, venho por razões pessoais, e agora me dou conta de que não deveria ocupar seu horário de trabalho...

Ele sacudiu a cabeça em um gesto negativo, sorrindo.

—É um prazer para mim. Diga-me o que é o que a preocupa. Trata-se do Nick? Tentei convencê-lo de que a deixe em paz, mas ele se sente muito protetor com sua mãe e sua irmã e não quer que nada as altere.

—Entendo muito bem a postura do Nick — disse Bella seca-mente. Não vim por isso.

—Ah.

—Queria lhe fazer umas perguntas a respeito do Bob Carter. Você era seu melhor amigo, não é assim?

Dirigiu-lhe um débil sorriso.

—Suponho que sim. Crescemos juntos.

Deveria lhe dizer que, depois de tudo, Bob não fugiu com a Renée? Jogou com a idéia, mas ao final a desprezou. Por mais amável que parecesse, não podia esquecer que era um velho amigo da família Carter. Tinha que contar com a possibilidade de que tudo o que lhe contasse iria parar diretamente no Nick.

—Sinto curiosidade por ele — disse finalmente. —Aquela noite minha família ficou destroçada, igual à do Nick. Como era? Já sei que não era fiel a minha mãe mais que a sua esposa; então, por que, de repente, lhe ocorreu abandonar tudo, sua família, seus negócios, para estar com ela?

—Não acredito que realmente queira que responda a isso — replicou Alex, irônico. —Para dizer de maneira educada, Renée era uma mulher fascinante, ao menos para os homens. Fisicamente era...

Bom, Bob era muito sensível à sensualidade do Renée.

—Mas já tinha uma aventura com ela. Não tinham motivos para fugir-se.

Alex se encolheu de ombros.

—Eu tampouco o entendi nunca.

—Por que não se limitou a divorciar-se?

—Uma vez mais, não tenho resposta para isso. Possivelmente por causa de sua religião. Bob não ia habitualmente à missa, mas tinha sentimentos religiosos mais fortes do que caberia esperar. Talvez pensasse que seria mais fácil para Jane não se divorciar dela, deixar tudo nas mãos do Nick e partir. Simplesmente não sei.

—Deixar tudo nas mãos do Nick? —repetiu Bella. —O que quer dizer?

—Sinto muito — disse ele com suavidade. —Não posso divulgar detalhes dos entendimentos financeiros de meus clientes.

—Não, claro que não. —Bella retrocedeu. —Recorda algo mais daquele verão? Com quem mais Bob estava se encontrando?

O advogado pareceu surpreender-se.

—Por que quer sabê-lo?

—Como lhe hei dito, sinto interesse por ele. Por sua culpa, não vi a minha mãe desde aquele dia. Era simpático? Tinha honra, ou era só um mulherengo?

Ele a olhou fixamente durante uns instantes, e a dor apareceu em seus olhos.

—Bob era o homem mais simpático do mundo — disse ao fim. — Eu o queria como a um irmão. —Sempre estava rindo, fazendo brincadeiras, mas se eu o necessitava para algo, acudia como uma bala. Seu matrimônio com Jane supôs uma decepção para ele, mas mesmo assim me surpreendeu quando se foi, porque estava muito unido ao Nick e a Leslie. Era um marido terrível, mas um pai maravilhoso.

—Baixou os olhos e se olhou as mãos. —Passaram doze anos —disse brandamente— e ainda sinto a falta dele.

—Telefonou alguma vez? —perguntou Bella. —Ele ficou em contato com sua família de alguma forma?

O advogado negou com a cabeça.

—Não, que eu saiba.

—Com quem mais estava se vendo aquele verão, além da Yolanda Foster?

Uma vez mais, a pergunta o sobressaltou. Elevou as sobrancelhas e quando falou o fez em tom de reprimenda.

—Nada disso importa. Como não deixo de dizer ao Nick, isso é já o passado, terá que esquecê-lo. Aquele verão foi muito doloroso, e mantê-lo vivo não faz bem a ninguém.

—Eu não posso esquecê-lo quando não o esquece ninguém deste lugar. Por mais triunfadora ou respeitável que seja agora, algumas pessoas daqui seguem me considerando um lixo. —Tremeu-lhe ligeiramente a voz ao pronunciar a última palavra. Não era sua intenção deixar que seu controle se cambaleasse, e se sentiu de uma vez irritada e violenta por isso. Entretanto, às vezes a dor conseguia aflorar.

Alex deve ter percebido, porque sua expressão mudou e rapidamente foi sentar se junto a ela, lhe agarrando uma mão ente as suas.

—Sei que para você foi difícil — disse com doçura. —Já mudarão de opinião, quando a conhecerem melhor. E Nick se suavizará com o tempo. Como disse, reagiu assim porque é muito protetor com sua família, mas basicamente é um homem justo.

—E desumano — acrescentou Bella.

Um sorriso triste tocou o rosto do advogado.

—Isso também. Mas não carece de amabilidade, me acredite. Se houver algo que eu possa fazer para que mude de opinião, prometo-lhe que o farei.

—Obrigada — disse Bella. Aquilo não era pelo que tinha vindo a vê-lo, mas ele era muito consciente para divulgar detalhes pessoais de seus clientes e amigos. Contudo, a visita não resultou uma perda de tempo; teve a impressão de que podia riscar da lista Andrea Wallice sem problemas.

Retornou a casa meditando sobre a magra informação que tinha obtido aquele dia. Se Bob tinha sido assassinado, Lowel ou Yolanda Foster pareciam ser os suspeitos mais prováveis. Perguntou-se como poderia consertar uma entrevista com algum dos dois. E também se perguntou onde estaria o senhor Pleasant, e se, se encontraria bem.

—Hoje vi a Bella — disse Alex aquela noite, quando estudava uns documentos em companhia do Nick. Tomou sua taça de conhaque e observou com atenção ao outro por cima da borda do cristal. —A primeira vista, a semelhança resulta inquietante, mas se um se fixa, não há forma de confundi-la com Renée. Não é curioso que Renée fosse mais formosa, mas que Bella resulte mais atrativa?

Nick levantou a vista. Seus olhos mostravam uma expressão irônica quando se cruzaram com os do Alex.

—Sim, já me dei conta de quão atrativa é, se for isso o que me pergunta. Onde a viu? —Agarrou sua taça, encheu-a de seu uísque escocês favorito e saboreou seu gosto penetrante na língua.

—Em meu escritório. Veio a me interrogar a respeito do Bob.

Nick esteve a ponto de engasgar-se. Deixou a taça na mesa com tal ímpeto que fez que o uísque oscilasse perigosamente perto da borda.

—Como? Que diabos queria saber de papai? —A idéia de que Bella perguntasse algo a respeito de seu pai o pôs furioso. Foi uma reação automática; por um momento não se tratava de Bella, a pessoa, mas sim de uma Smith, com todas as conotações que suscitava aquele sobrenome. Ele a desejava com uma necessidade tão imperiosa que o alarmava e enojava de uma vez, embora soubesse que ia satisfazer sua necessidade se lhe fosse possível, mas não queria que nada seu tocasse a sua família. Não queria que Leslie nem Jane ficassem expostas a ela, e certamente não queria que andasse perguntando por seu pai. Bob já não estava. Sua ausência, sua traição, era uma ferida que seguia estando muito próxima à superfície e que sangrava ao menor arranhão.

—Queria saber como era, se alguma vez se pôs em contato com vós, se estava vendo-se com alguém mais aquele verão.

Furioso, Nick se levantou pela metade da poltrona, com a intenção de ir a sua casa naquele mesmo momento e pôr as coisas em claro com ela, mas Alex o deteve lhe pondo uma mão no braço.

—Tem direito de saber — disse meigamente. —Ou pelo menos a sentir curiosidade.

—Tem uma droga! —exclamou Nick.

—Ela tampouco viu a sua mãe depois.

Nick ficou petrificado um instante, e logo voltou a se deixar cair na poltrona. Maldito seja Alex tinha razão. Doía, mas tinha que admitir a verdade. Ele, pelo menos, era um homem adulto, embora inexperiente nos negócios, quando desapareceu Bob; Bella só tinha quatorze anos e estava desamparada e vulnerável como uma menina. Não sabia o que tinha sido de sua vida desde então e agora, exceto que era viúva e que era a proprietária de uma agência de viagens de êxito, mas apostaria até o último centavo que ficasse a que não lhe tinha resultado prazenteiro. Viver com Amos Smith e aqueles dois valentões de irmãos, além da puta de sua irmã, não pôde lhe resultar fácil. Tampouco deve ter sido fácil antes, mas ao menos estava Renée.

—Deixa-a em paz, Nick — disse Alex brandamente. —Ela merece algo melhor que o recebimento que está tendo de algumas pessoas, e parte disso é tua culpa.

Nick agarrou sua taça e deu voltas ao uísque, contemplando a cor âmbar do líquido.

—Não posso — respondeu em tom áspero. Levantou-se e foi com a taça até a janela, onde se deteve observando seu reflexo no cristal e a escuridão que se abria em frente. Bebeu outro sorvo para tomar forças. —Tem que partir antes que eu faça algo que de verdade prejudique a Leslie e a minha mãe.

—Como o que? —perguntou Alex, confuso.

—Digamos somente que, no que concerne a Bella, estou entre a cruz e a espada. A cruz é minha família, e a espada... —olhou a seu redor com uma expressão irônica nos olhos... —... A tenho dentro das calças.

Alex o olhou fixamente com gesto abatido.

—Meu Deus.

—Deve ser algo genético. —Aquela era a única explicação possível, pensou com gravidade.

Tinha herdado isso de seu pai. Se lhe plantavam diante uma Smith, se punha duro. Não, não qualquer das Smith; duas delas o deixaram frio. Mas Bella... Seu corpo não tinha nada de frio quando Bella estava em qualquer lugar dentro de um quilômetro de distância.

—Não pode fazer isso a sua mãe — disse Alex em um sussurro. —A humilhação a mataria.

—Diabos, já sei! Por isso quero que Bella se vá antes que eu cometa uma estupidez. —Voltou-se para olhar ao Alex, ainda com aquela expressão mescla de diversão e fúria nos olhos. — Mas eu não sou o único que se sente atraído por ela, maldita seja. Se o fosse, a coisa resultaria mais fácil. A outra noite fui a sua casa para lhe expor uma proposta: Se quisesse partir desta cidade, eu lhe compraria uma casa em qualquer cidade próxima, enquanto não fora dentro desta paróquia. Desse modo poderíamos nos ver sem fazer mal a ninguém. Havia ali um homem, jantando com ela, e me pus tão ciumento que a acusei de ter um velho protetor. —Sacudiu a cabeça e não brandamente para si. —O que te parece? O velho parecia mais frágil que um palito de dentes, mas ia vestido como se tivesse saído dos anos cinqüenta, e o único que me ocorreu pensar foi que estava tentando levá-la para cama.

—Que velho? —perguntou Alex com evidente curiosidade. — Alguém que eu conheça?

—Era de Nova Orleans. Chamava-se Pleasant. Estava tão fora de mim que não recordo se Bella mencionou o nome de batismo. Disse que era sócio dela.

—Ah, sim?

Nick se encolheu de ombros.

—Provavelmente. Bella é proprietária de uma agência de viagens e tem uma filial em Nova Orleans.

—É a proprietária?

—Se arrumou bastante bem sozinha, não é verdade? —Outra vez aquela leve pontada de orgulho. —Começou em Dallas. Não sei quantas filiais possui, mas tenho uma pessoa recolhendo informação sobre ela. Tem que me mandar um relatório qualquer dia destes.

—Se não for embora, vai tentar lhe arruinar o negócio? —perguntou Alex, mas com menos brutalidade do que tinha esperado Nick.

—Não. Por uma parte, não sou tão cretino. Por outra, se o fizesse, adeus a minhas possibilidades com ela. —Torceu a boca em um sorriso irônico. —Decide você qual dos dois motivos é o mais importante.

Alex não lhe devolveu o sorriso.

—É uma situação complicada. Se estiver completamente decidido a te deitar com ela...

—Estou — disse Nick, tomando o resto do uísque.

—Nesse caso, não pode viver aqui. Jane ficaria destroçada.

—Preocupa-me mais Leslie que mamãe.

Alex piscou, como se não tivesse tido em conta a Leslie. E provavelmente não; toda sua atenção estava centrada em Jane. É obvio, estava à corrente do intento de suicídio da Leslie; não foi possível mantê-lo em segredo, e menos com a comoção que produziu no consultório do doutor Bogarde. E de todos os modos Leslie não fazia nada para ocultar as cicatrizes. Era muito orgulhosa para permitir-se tomar o caminho mais covarde.

—Leslie é agora muito mais forte que antes — disse Alex por fim. —Mas Jane não tem onde se apoiar. Ao princípio pensei, e ainda penso que deveria enfrentar-se aos fatos e seguir com sua vida, mas se descobrisse que você tem uma aventura com Bella... Não, não poderia suportá-lo. Pode que tentasse suicidar-se.

Nick sacudiu a cabeça em um gesto negativo, assombrado de que Alex conhecesse Jane desde fazia tantos anos e não compreendesse que era muito egocêntrica para fazer-se dano. A miopia do amor só lhe deixava ver sua beleza serena, perfeita, inalcançável. Era sua veia romântica, estranha característica em um advogado.

—Tem que ir embora — disse Alex com pesar.

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