terça-feira, 13 de abril de 2010

Fic After The Night Cap 11

O fax estava funcionando, por isso Bella não ouviu o motor do carro que se aproximava da entrada.

Quando a porta vibrou com a chamada, apareceu pela janela a olhar. Não viu quem estava de pé no alpendre, mas sim viu o Jaguar cinza estacionado detrás de seu carro e deixou escapar um suspiro enquanto, com o café na mão, passava à sala de estar para abrir a porta. Logo que eram às oito e meia, muito cedo para ter que lutar com o Nick Carter.

O primeiro que advertiu ao abrir a porta foi que estava furioso.

A única vez que o tinha visto naquele estado foi o dia em que foi ao barraco a lhes dizer que Renée fugiu, e de novo aquela noite quando os expulsou a todos da cidade. Ao olhar a expressão fria e desumana daqueles olhos claros, relampejou em sua mente a lembrança daquela noite, e as duras imagens a reduziram em um instante à menina aterrorizada que era então. Gelou-lhe o sangue e retrocedeu um passo ao mesmo tempo em que Nick entrava na casa deixando que a porta se fechasse de um golpe.

Bella se sobressaltou ao ouvir o ruído. Seus olhos, verdes e muito abertos, estavam fixos no rosto do Nick, como se não se atrevesse a desviar o olhar.

—Que diabos acha que está fazendo? —perguntou-lhe ele muito brandamente, com uma voz aveludada que resultava tão cortante como o fio de uma espada contra outra. Avançou um passo mais, ameaçador, e Bella retrocedeu outra vez. A xícara de café lhe tremeu na mão.

A cada passo que ele dava para frente, ela dava outro para trás, uma lenta dança que terminou quando Bella se chocou contra a parede e ficou pressionando com as costas contra a madeira como se pudesse atravessá-la pela força. Nick colocou rapidamente os braços antes que ela pudesse deslizar-se a um lado e plantou as palmas das mãos contra a parede, a ambos os lados dos ombros de Bella, aprisionando-a com a jaula que formavam seu corpo e seus braços. Inclinou-se ligeiramente; tinha abertos os dois botões superiores da camisa e lhe via uma cunha de pele cálida e olivácea decorado com um pêlo claro e liso. O pulso lhe pulsava visivelmente na base da garganta, justo diante dos olhos de Bell. Esta cravou o olhar naquele movimento rítmico, desesperado por tranqüilizar-se. Não tinha quatorze anos. Nick não podia expulsá-la de sua própria casa.

—E então? —perguntou ele, ainda naquele perigoso tom de ronronem.

Suas grossas mãos lhe estavam espremendo os ombros nus sob a blusa sem mangas; sentia sua pele quente contra a dele. Seus ombros largos e seu poderoso peito eram como um muro que tinha diante de si, e seu aroma masculino, penetrante e almiscarado fez que suas fossas nasais batessem as asas automaticamente de prazer. Ainda sustentava a xícara de café, a modo de escudo entre eles, e então tragou saliva e conseguiu dizer:

—Do que está falando?

Ele se inclinou ainda mais, tanto que seu estômago roçou os dedos de Bella.

—Estou falando de todas essas perguntas que estiveste fazendo. Ontem à noite Alex me disse que esteve em seu escritório. Uma coisa é falar com o Alex, que mantém a boca fechada, mas adivinha a quem vi esta manhã: ao Ed Morgan. —Apesar de seu tom calmo, Bella via arder uma fria cólera em seus olhos. Se ele tivesse um ataque de ira, não estaria nem a metade de nervosa. Mas naquele estado de ânimo era capaz de algo, embora, por mais estranho que parecesse, não lhe tinha medo físico. Não; se Nick lhe fizesse mal, seria um dano emocional. —Só vou lhe dizer isso uma vez. —Pronunciou aquela frase com toda precisão, aproximando-se ainda mais, até quase lhe tocar o nariz com a seu. —Deixa de fazer perguntas sobre meu pai. Se te intrometer não fará mais que provocar fofocas e fazer mal outra vez a minha família. E se isso ocorre, Bella, sim que voltarei a te expulsar daqui, pelo meio que for necessário. Pode estar certa disso. Assim tem em conta, não quero que por essa bonita boca saia nem sequer em sussurro o nome de meu pai.

Os olhos verdes e muito abertos de Bella olharam fixamente os dele, escuros e gélidos, tão somente separados por uns poucos centímetros. Ela elevou o queixo e abriu a boca, que ele considerava bonita, para atirar ao leão da cauda deliberadamente, e pronunciou duas palavras:

—Bob Carter.

Viu como as pupilas do Nick se dilatavam de incredulidade, e logo como o gelo de seus olhos era engolido pelo puro fogo. Talvez não tivesse sido prudente provocá-lo, mas contemplar o resultado foi fascinante. Pareceu alargar-se pela fúria, seu rosto se tingiu de uma cor escura, e se não tivesse levado o cabelo recolhido para trás, Bella pensou que inclusive provavelmente lhe teria posto de ponta.

Dispôs de uma fração de segundo para desfrutar do espetáculo. Logo, Nick se moveu com a mesma velocidade que da vez anterior e levantou as mãos da parede para as fechar com força sobre os braços de Bella, e lhe deu uma forte sacudida. A ela lhe afrouxou a mão que sustentava a esquecida xícara de café, e notou como lhe escapava de entre os dedos. Lançou uma leve exclamação no intento de retê-la, mas Nick estava muito perto e quão único conseguiu foi verter-lhe em cima, antes de deixar que o líquido fumegante queimasse a ele. O café lhe ensopou a saia e a pegou na coxa antes de cair por fim a seus pés. Lançou outra exclamação, desta vez de dor.

A xícara se estatelou contra o chão e perdeu a asa, mas o resto ficou intacto. Nick deu um salto para trás e soltou automaticamente a Bella, que tratava freneticamente de separar o tecido molhado da coxa ardida.

Ele a percorreu com o olhar e disse:

—Droga — em tom áspero. Agarrou-a, atraiu-a por volta de si e suas mãos trabalharam durante uns instantes na parte posterior de sua cintura. A saia se afrouxou e caiu aos pés de Bella. Ele a levantou do chão tomando-a em seus braços e ela aturdida agarrou-se em seus ombros enquanto a habitação girava a seu redor.

—O que está fazendo? —exclamou alarmada enquanto ele a levava a toda pressa à cozinha. Estava confusa pela impressão causada pela dor, e ele se movia muito rápido para poder entender nada. E por debaixo de tudo isso, era muito consciente de que tinha as pernas nuas por cima do braço do Nick e de que só ia vestida com a blusa e uma calcinha.

Nick enganchou um pé em uma cadeira, separou esta da mesa e ato seguido depositou a Bella com cuidado nela. Voltou-se para a pia, tirou várias toalhas de papel, fez um pacote com elas e o pôs debaixo da água fria. Ainda gotejava quando o aplicou sobre a coxa avermelhada e ardida. Bella se estremeceu ao notar o frio. A água escorreu pela sua perna até o assento da cadeira e lhe molhou a calcinha.

—Me esqueci do café — murmurou Nick. Na verdade, nem sequer se tinha fixado nele até que o viu escorrendo pela perna de Bella. —Sinto muito, Bella tem chá? — antes que ela pudesse responder, já estava abrindo a porta da geladeira e tirando a jarra de chá que era quase de rigor em todas as cozinhas sulinas.

Abriu e fechou as gavetas dos armários até dar com toalhas limpas. Extraiu uma, introduziu-a na jarra de chá e depois a tirou e a escorreu com cuidado para retirar o líquido restante. Bella observou divertida como ele retirava a bola de papel e a atirava a pia para substituí-la pela toalha ensopada de chá. Se a água lhe pareceu fria, o chá estava gelado. Bella respirou fundo e gemeu enquanto o líquido lhe escorria pela perna e formava um atoleiro debaixo de seu traseiro.

—Dói? —perguntou Nick, dobrando um joelho para lhe passar a toalha pela coxa. Sua voz soava tensa pela ansiedade.

—Não — respondeu ela com brutalidade. —Está frio, e me está ensopando o traseiro.

Tinha o rosto de Nick à altura do dela. Ao dizer aquilo, viu que a preocupação se apagava de seu olhar e se relaxava a tensão de seus ombros. Nick agarrou o respaldo da cadeira com a mão esquerda e perguntou com humor irônico:

—Exagerei?

Ela franziu os lábios.

—Um pouquinho.

—Tem a perna vermelha. Sei que te queimaste.

—Só um pouco. Arde um pouquinho, isso é tudo. Duvido que me formem bolhas. —Entrecerrou os olhos para olhá-lo, tentando ocultar a risada que lhe fervia no peito. —Agradeço sua preocupação, mas certamente não justifica que me tirasse à metade da roupa.

Nick lhe olhou as pernas nuas e o algodão branco da roupa interior apenas visível por debaixo da borda da blusa. Sentiu um tremor que lhe percorria todo o corpo. Pôs a mão direita sobre a coxa ferida e a acariciou com a palma a elasticidade tranqüila daquela carne, fascinado por sua textura de seda.

—Levo muito tempo desejando te molhar a calcinha —murmurou, —mas não com chá.

A risada desapareceu como se não tivesse existido nunca. A tensão nasceu entre eles, tão densa que era quase evidente. Bella sentiu que lhe contraíam as vísceras ao ouvir aquilo, notou um calor que lhe alagava a virilha, um endurecimento nos seios. Experimentou o umedecimento do desejo, e em seus lábios tremeu a tentação de pronunciar: «Já o tem feito», mas reprimiu o impulso, pois sabia que declarar em voz alta aquela delatora reação suporia transpassar uma fronteira que não se atrevia a cruzar. Do Nick emanava uma tensão sexual semelhante a um campo de força, quente e urgente. Só com que fizesse aquela confissão, teria-o em cima dela imediatamente.

Sofria pela necessidade de tocá-lo, de apertar-se contra aquele corpo grande e duro como o aço, de abrir seu próprio corpo a ele. Só o instinto de conservação a manteve silenciosa e imóvel.

Nick se aproximou de forma imperceptível, inalando seu aroma doce e picante. O sangue lhe pulsava nas veias, potente. Olharam-se em silêncio um ao outro, como dois adversários enfrentados em uma rua poeirenta. Desejava lhe baixar a calcinha e afundar a cara em seu colo, um impulso tão forte que se estremeceu pelo esforço de resistir a ele, e se perguntou o que faria Bella se ele se deixasse levar. Assustaria-se, empurraria-o para afastá-lo... Ou abriria as pernas e lhe agarraria o cabelo com as mãos?

Sua mão se flexionou sobre a coxa de Bella, seus dedos pressionaram a carne sedosa que se esquentou sob seu contato. Viu como se dilatavam suas pupilas e a seguir baixava as pálpebras para inalar ar, profundo e lentamente, um movimento que lhe fez fixar-se em seus seios.

Moveu um pouco a mão e agitou o polegar para frente e para trás, cada vez um pouco mais acima, mais em direção à fenda que se abria entre as coxas apertadas. Queria tocá-la. Esqueceu-se da Leslie, do Bob e de tudo exceto o movimento lento e ardente de seu dedo polegar, cada vez mais perto daquela carne de deliciosa suavidade que aguardava entre as pernas, tão fracamente protegida pela magra capa de algodão. Deslizaria o dedo sob o elástico e encontraria o sulco daquelas dobras estreitamente fechadas. Logo o arrastaria para cima, abrindo-a pouco a pouco, até encontrar o diminuto casulo que coroava seu sexo.

Se lhe permitisse tocá-la, seria dele. A tomaria ali mesmo.

Seu dedo polegar roçou a borracha elástica. Bella se moveu, agarrou-lhe a mão com a sua e a separou da coxa.

—Não — sussurrou.

A frustração o invadiu como uma labareda. Um som muito parecido a um rugido retumbou em sua garganta enquanto seus instintos físicos lutavam por impor-se à razão. Ganhou o cérebro, mas com muita dificuldade. Estava suando, tremendo pela necessidade de tomá-la. Sua ereção pugnava dolorosamente contra a limitação das calças.

—Não — voltou a dizer Bella, como se o primeiro rechaço necessitasse reforços, e provavelmente fosse assim.

Nick girou a mão de modo que seus dedos se entrelaçaram com os dela.

—Então segura minha mão um minuto.

Bella assim o fez e segurou a mão dele, sentindo como seus dedos se crispavam e flexionavam como se procurassem algo. A outra mão agarrava o respaldo da cadeira, e os nódulos se viam brancos pela pressão.

Ao cabo de uns instantes de duração indefinida, o tempo se congelou enquanto os olhares de ambos se cravavam um no outro e o desejo flutuava no ambiente. A terrível tensão dele começou a desvanecer-se. Fez uma careta de dor e mudou de postura, estirando a perna. Liberou a mão para baixá-la e fazer um ajuste, e o franzido de suas sobrancelhas se foi esfumando até ficar mais cômodo.

Bella pigarreou, insegura do que dizer, se tivesse que dizer algo.

Nick ficou em pé com rigidez. A grossa protuberância de suas calças era inconfundível, mas já tinha recuperado o controle. Tomou a toalha e a estendeu sobre as coxas de Bella para não ver a tentação, embora seguisse tendo-a perto.

Ao cabo de um minuto disse em voz baixa:

—Está segura de estar bem?

—Sim. —Bella também falou em voz baixa, como se um ruído excessivo fosse fazer pedacinhos o controle de ambos e a lançá-los pelo precipício que com muita dificuldade ela tinha conseguido evitar. Aquela sede não tinha sido de um só. —É uma queimadura sem importância. Provavelmente, amanhã nem sequer a notarei. —A ardência tinha desaparecido totalmente, mitigada pelo chá frio.

—Está bem. —Nick a olhou e levantou uma mão como se fosse lhe acariciar o cabelo, mas a deixou cair a um lado. Não era seguro permitir-se tocá-la ainda. —Bem, pois me diga por que esteve fazendo perguntas a respeito de meu pai.

Bella o olhou, o fogo claro de seu cabelo. Queria lhe dizer o que suspeitava que seu pai estivesse morto, mas descobriu que a voz lhe entupiu na garganta. Não podia fazê-lo. Tinha que acreditar que ele não sabia nada disso, que não tinha tido nada que ver com a morte de seu pai, porque o amava e, se não fosse assim, romperia-lhe o coração. E porque o amava, não podia lhe fazer dano. Atirou-se em cima a propósito a taça de café, para que ele não se escaldasse; como ia dizer lhe agora que o pai ao que tanto amava provavelmente tinha morrido assassinado?

De modo que em lugar disso lhe disse algo que era verdade no conteúdo, mas uma mentira na intenção, e murmurou:

—Ele também faz parte do meu passado. Quase não recordo quando ele não estava presente, entretanto, na realidade nunca o conheci. Sempre era amável comigo quando nos víamos, o qual não acontecia muito freqüentemente, mas perdi a minha mãe por culpa dele. Acha que não tenho curiosidade em saber como era como pessoa? Que não deveria tentar atar os cabos soltos, encontrar alguma lógica ao que aconteceu?

—Boa sorte — resmungou Nick. Eu acreditava que o conhecia melhor que ninguém no mundo, e ainda não lhe encontro nenhuma lógica. —Calou durante uns instantes. —Se tiver mais pergunta que fazer sobre meu pai, faça a mim, porque falei sério. Não quero me pôr mal contigo, Bella, mas farei o que for necessário para proteger a minha família. Não o esqueça.

Já que se tinha devotado... Mas não, não era o momento de prolongar aquele encontro lhe disparando perguntas, estando ela meio nua e ele como um cartucho de dinamite sexual, cevado e preparado para explodir. Assim que se limitou a olhá-lo em silêncio, e ao cabo de uns instantes a boca dele se torceu em um sorriso.

—Então não me promete nada, né? Pensa bem, neném. Não ponha as coisas mais difíceis que o necessário. Você só guarda silêncio e te comporte.

—Como uma boa menina?

—Como uma mulher inteligente — corrigiu Nick. Sua mão se moveu de novo para ela, e ele de novo interrompeu o gesto. Bella tinha a sensação de que queria ficar, continuar com o que tinha começado, mas ela o tinha rechaçado e ele estava obrigando a si mesmo a aceitar aquela decisão... No momento. Cada vez que se vissem voltariam a encetar-se em outra batalha, e a tentação de render-se seria muito mais forte precisamente por havê-lo rechaçado.

—Vou partir — disse Nick.

—Muito bem.

Ele não se moveu. Então disse:

—Não quero partir.

—Vá de todo modo.

Ele riu levemente.

—É uma mulher dura, Bella Smith.

—Hardy.

—A ele não o conheci. Para mim não é real. Amava-o?

—Sim. Mas não do modo que amo a ti, pensou ela. Jamais.

Brilharam os olhos claros do Nick, e desta vez a tocou, tomando a bochecha na mão.

—Para mim sempre será uma Smith, com esse cabelo vermelho e esses olhos de bruxa. —Inclinou-se e posou brandamente sua boca sobre a dela em um breve beijo. Ato seguido partiu, e quando a porta se fechou atrás dele, Bella se afundou na cadeira com uma expressão de alívio.

Sentia-se igual a se uma tormenta tivesse penetrado naquela habitação e a tivesse arrojado pelo chão. Ainda lhe retumbava o coração, e tinha os músculos como se fossem espaguetes cozidos. Aqueles precisos momentos tinham sido dos mais eróticos de toda sua vida, e o único que tinha feito ele era tocá-la na perna. Se lhe tivesse feito amor de verdade, teria perdido completamente o controle de si mesmo. Assustava-a, a intensidade que ele era capaz de provocar com um olhar, um breve contato, inclusive com o delicioso aroma almiscarado de sua masculinidade.

Para mim, você sempre será uma Smith.

Não era precisamente a melhor das recomendações. Só podia supor que o que tinha querido dizer era que nunca poderia esquecer seu passado, sua herança, que nada que ela fizesse faria mudar a opinião que tinha.

E eu te amarei sempre, sussurrou-lhe mentalmente. Sempre.

Só um toque na perna, e esteve a ponto de correr, pensou Nick com ironia. Deus, se de fato tivesse entrado nela, provavelmente o coração lhe teria explodido de tensão.

Tremiam-lhe as mãos sobre o volante, uma reação comum se passava mais de um minuto na companhia de Bella. Seria mais fácil se ela não reagisse como fazia; podia ficar quieta, podia dizer que não, mas seguia tendo aquele olhar ardente e lânguido nos olhos. Conhecia todos os sinais. A respiração que se voltava mais profunda, os seios que se arredondavam e se enchiam, os mamilos que se endureciam. Embora não a beijou até aquele rápido contato nos lábios ao partir, porque não pôde resistir mais ao impulso, a boca de Bella esteve vermelha e torcida. Um delicado rubor brilhava por debaixo de sua pele translúcida.

Desejava-a. Tinha que obrigá-la a partir. Desejava-a. Aquelas necessidades contrárias o estavam deixando louco.

Não tinha aceitado deixar de fazer perguntas. Não tinha discutido com ele, mas estava começando a dar-se conta de que aquele seu silêncio mascarava uma veia de teima tão grande como o Grande Canhão. Era possível que não brigasse, mas estava claro que resistia. Desde menina já tinha sido muito freqüentemente castigada pela vida, quando se encontrava desamparada para tomar decisões próprias. Agora que podia decidir por si mesmo, permitia que muito poucas coisas lhe impedissem de fazê-lo. Aquela tenacidade era provavelmente a razão principal pela que, a jovem idade de vinte e seis anos, já tinha um negócio próprio.

Naquelas circunstâncias, não era provável que ele conseguisse convencê-la de que partisse. E como estava claro que não podia confiar em seu próprio raciocínio para não se aproximar dela, previu que lhe moravam dias difíceis.

A Leslie tremia as mãos quando abriu a porta do escritório do Alex e sorriu a Andrea, mas se arrumou para manter o tom de voz firme e alegre quando disse:

—Espero que Alex esteja. Estive na cidade e me recordei que tinha que lhe perguntar uma coisa.

—É seu dia de sorte — repôs Andrea, sorridente. Conhecia a Leslie desde que era um bebê. —Chegou faz uns cinco minutos. Está lavando as mãos, mas sairá em um minuto. Passa e sente-se.

O de lavar as mãos era, é obvio uma forma educada de dizer que estava no banheiro. Aquilo era o que diria sua mãe, pensou Leslie, se é que alguma vez aludia ao banheiro. Ao longo de trinta e dois anos, não recordava que sua mãe tivesse reconhecido jamais a verdadeira função da privada. As realidades físicas deviam esconder-se na medida do possível, ou ignorar-se. Por mais que tentasse, Leslie não imaginava a sua mãe tendo relações sexuais, embora Nick e ela constituíam uma prova de que as tinha tido pelo menos duas vezes.

E quanto a ir ver um obstetra e à indignidade de ter um bebê... O incrível era que sua mãe não se trancou no quarto para não deixar entrar o seu pai depois desde que nasceu Nick, em vez de passar outra vez por isso.

Leslie evitou o sofá de couro e foi até a janela para contemplar a praça da delegacia. As flores da primavera estavam dando passagem rapidamente a densa e abundante folhagem do verão. O tempo avançava implacável, a terra e os novelos repetiam seus ciclos alheios aos insignificantes seres humanos, tão apanhados em sua própria grandeza que acreditavam exercer seu efeito sobre todas as coisas.

Alex entrou na estadia sorrindo ao vê-la.

—O que te traz hoje por aqui? —Tinha jantado com eles a noite anterior, de modo que qualquer assunto teria sido tratado lá então.

Leslie olhou aquele rosto magro e arrumado, os olhos castanhos e amáveis, e lhe secou a garganta.

Levava uma semana tentando reunir coragem suficiente para falar com ele. De fato tinha conseguido chegar até seu escritório, mas agora lhe falhou a voz.

Alex franziu o sobrecenho ao ver o sofrimento em seus olhos.

—O que ocorre querida? —perguntou-lhe com suavidade ao mesmo tempo em que fechava a porta e se aproximava para lhe agarrar a mão.

Ela respirou fundo. Às vezes tinha a impressão de estar louca, de que aqueles momentos que passava com o Alex existiam só em sua imaginação. Nos olhos dele não havia nunca indício algum disso, nem tampouco em sua forma de atuar, quando estavam juntos em situações normais.

Simplesmente era o Alex de sempre, um ombro robusto sobre o que chorar que ia em silêncio para carregar com todo o peso que pudesse, até que ela e Nick foram capazes de arrumar-se. Na realidade era como se aqueles momentos furtivos os vivessem outras duas pessoas, seu pai e sua mãe, que se juntavam por meio da carne de outros.

Aquele era Alex, recordou a si mesmo. Não ia partir. Seu amor e seu apoio não dependiam de se ela se deitava com ele ou não. Para ele tinha sido algo cômodo, isso era tudo, uma válvula de escape para seus sentimentos reprimidos. Aquilo era o que lhe dizia a lógica. Entretanto, emocionalmente estava aterrada. Já a tinha abandonado um pai, seu amor por ela não era o bastante forte para retê-lo em contraposição com o atrativo de transar com Renée Smith. Não poderia suportar perder também ao Alex.

Mas tinha Mike. O doce, o sexy Mike. Se não aproveitasse a oportunidade já, talvez o perdesse para sempre, e de ter que escolher entre os dois homens, não havia opção possível.

Mike era seu coração, o sangue que percorria seu corpo.

—Leslie? —insistiu Alex com seus olhos castanhos obscurecidos pela preocupação.

Ela tragou saliva. Tinha que lhe dizer. Fechou os olhos e o soltou sem mais.

—Vou casar-me com o Mike McFane.

Produziu-se um momento de silêncio, durante o qual Leslie fechou os olhos com mais força, aguardando presa de pânico. Mas transcorreram os segundos e Alex seguiu sem dizer nada, até que por fim a tensão se voltou tão aguda que não pôde suportá-la durante mais tempo e abriu os olhos.

Ele sorria, com uma expressão de afetuosa exasperação no semblante.

—Felicidades — lhe disse, e se pôs a rir. —O que esperava que dissesse?

Leslie, estupefata, ficou olhando.

—Pois... Não sei.

—Me alegro por ti, querida. Nem você nem Nick mostraram inclinação alguma para casar, e isso me preocupava. O xerife é um homem bom e estável.

Ela se umedeceu os lábios.

—Mamãe não vai gostar.

Alex calou durante um momento, reflexivo.

—É provável que não, mas não permita que isso seja um obstáculo. Merece ser feliz, Leslie.

—Não quero incomodá-la.

—Há algumas coisas que deve enfrentar-se, e algumas coisas que não tem por que. Neste caso, te case com o Mike e seja o mais feliz possível. Acredite-me, isto não vai incomodar a nem a metade que se inteirar de Bella Smith.

Bella Smith? Leslie piscou.

—O que acontece ela? —Dado que sua mãe já sabia que Bella se mudou a Nashville, a frase do Alex não tinha sentido.

—Não lhe há isso dito Nick? —O advogado parecia surpreso.

—É evidente que não. O que tinha que me dizer?

Alex suspirou.

—Esteve fazendo perguntas por aí... Sobre o Bob. Perguntas pessoais. Se ninguém impedir, começará a revirar tudo de novo, e isso fará mal a Jane, muito mais que seu casamento.

Leslie se sentiu como se lhe houvessem propiciado uma bofetada. Por que Bella Smith estava fazendo perguntas sobre seu pai? A só idéia lhe parecia um ultraje. É que não era suficiente que a puta de sua mãe o tivesse levado e ela não houvesse retornado a vê-lo? Ficou vermelha de ira.

—Que tipo de perguntas esteve fazendo? Deus santo, o que se traz entre mãos?

—Perguntas pessoais, que tipo de pessoa era, coisas assim. Ontem veio aqui porque tinha ouvido dizer que eu era seu melhor amigo. Uma coisa é que fale comigo, mas Nick tem descoberto esta manhã que esteve incomodando ao Ed Morgan também.

—Perguntou por papai nada menos que ao Ed Morgan? —exclamou Leslie. —Esse homem é o maior fofoqueiro da cidade!

—Já se encarregou Nick — disse Alex em tom tranqüilizador, e lhe acariciou a mão. —Já conhece seu irmão. Em dez segundos fez que Ed ficasse a gaguejar e recuar.

Quando Nick estava furioso realmente dava medo, com aquele olhar frio e letal que punha.

Não se imaginava ao Ed Morgan suportando-o nem sequer durante dez segundos. Aquela notícia a divertiu um momento, mas ficou desbancada pela indignação pelo descaramento de Bella Smith.

—Compreendo que tenha curiosidade —disse Alex, —mas, como hei dito ao Nick, poderia ser desastroso que se inteirasse sua mãe.

—Pois eu não compreendo essa curiosidade! —exclamou Leslie. Deus, que pouco tinha feito falta para ressuscitar tudo, a sensação de perda e de angústia, a dor asfixiante. Sentiu como a alagava o ódio. Soltou-se a mão e se voltou de costas. —Nick fechou a boca ao Ed Morgan, mas, o que vai fazer com Bella?

—Não sei. —Alex sacudiu a cabeça negativamente. —Já sei que não está de acordo, mas quanto se deve viver aqui eu opinava que terei que deixá-la em paz. O que aconteceu não foi culpa dela, e merece o direito de viver onde quiser. Isso é algo a que deveria haver se enfrentado Jane e havê-lo assimilado o melhor possível. Isto é distinto. Isto é deliberado, e é algo do que sim é culpado.

—Nick se encarregará disso — disse Leslie. —Tem que fazê-lo.

—Não sei se poderá.

—Naturalmente que sim! Há muitas coisas que pode fazer.

—Deixa que o explique de outra forma. Não acredito que possa ser tão drástico com Bella, tendo em conta o que sente por ela. Acordada, Leslie! —repreendeu-a. — Preste atenção a seu irmão. Sente-se atraído por ela. Isto não resulta nada fácil para ele. Leslie sentiu que o sangue fugia de seu rosto e o deixava sem forças. Nick se sentia atraído... Por aquela mulher? Não, Deus não podia ser tão cruel. Não podia fazê-la passar de novo por aquele pesadelo.

Incapaz de dizer nada mais, despediu-se do Alex com um gesto da mão, sem poder fazer frente ao olhar de compaixão que viu em seus olhos. Apressou-se a sair de seu escritório, e até que alcançou a rua não caiu na conta de que não lhe havia dito que já não ia poder estar mais com ele.

Sua mãe morreria se Nick se atasse com a filha de Renée Smith. As fofocas seriam tão cruéis que jamais poderia voltar a levantar a cabeça. Deixou escapar uma rápida risada. E pensar que lhe preocupava o que sua mãe opinasse do Mike McFane!

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