Era um bom dia para sonhar. Caíam às últimas horas da tarde, o sol projetava sombras alongadas quando conseguia abrir-se passo entre as densas nuvens, mas em sua maior parte a luz dourada e translúcida ficava presa nas copas das árvores e deixava o leito do bosque sumido em misteriosas sombras. No ar do verão, quente e úmido, flutuava o perfume rosado e adocicado do néctar de madressilva, misturado com o rico aroma marrom da terra e da vegetação podre, além do penetrante aroma de verde das folhas. Para Isabella Smith, os aromas tinham cor, e desde que era pequena se entretinha pondo cores aos aromas que recebia a seu redor.
A maioria das cores eram óbvias, extraídos do aspecto que tinha cada coisa. Naturalmente, a terra cheirava a marrom; é obvio, aquele aroma fresco e forte das folhas era verde em sua mente. O toronja cheirava amarelo brilhante; nunca tinha comido toronja, mas em certa ocasião tinha pego um na fruteira e tinha farejado sua pele, hesitante, e o aroma tinha explorado em suas papilas gustativas, azedo e doce de uma vez.
Resultava-lhe fácil pôr cor ao aroma das coisas na mente; em troca, a cor dos aromas das pessoas era mais difícil, porque as pessoas não eram nunca uma só coisa, a não ser diferentes cores mescladas entre si. As cores não significavam o mesmo nos aromas das pessoas que nos das coisas. Sua mãe, Renée, despedia um aroma vermelho profundo e picante, com algumas voltas de preto e amarelo, mas o vermelho picante quase esmagava todos as outras cores. O amarelo era bom nas coisas, mas não nas pessoas; nem tampouco o verde, nem sequer alguns de seus matizes.
Seu pai, Amos, era uma insuportável mescla de verde, arroxeado, amarelo e negro. Com ele foi verdadeiramente fácil, pois de uma idade muito jovem o tinha associado com o vômito. Beber e vomitar, beber e vomitar, isso era quão único fazia seu pai.
O melhor aroma do mundo pensou Bella enquanto perambulava entre as árvores contemplando os raios de sol capturados e guardando sua felicidade secreta no mais fundo de seu peito, era o do Nickolas Carter. Bella vivia pelas breves espionagens dele que alcançava ao vê-lo na cidade, e se ele se encontrasse o bastante perto para ouvir o som rouco e profundo de sua voz, tremia de alegria.
Hoje tinha conseguido estar bastante perto dele para cheirá-lo, e ele inclusive a havia tocado! Ainda flutuava em uma nuvem depois de viver aquela experiência.
Tinha entrado na loja do Prescott com Jodie, sua irmã mais velha, porque esta lhe tinha roubado de Renée um par de dólares da bolsa e queria comprar um esmalte de unhas. O aroma de Jodie era alaranjado e amarelo, uma pálida imitação do aroma de Renée. Saíram da loja levando o prezado frasco de esmalte de unhas rosa intenso cuidadosamente escondido no sutiã de Jodie para que Renée não o visse. Jodie levava já quase três anos usando sutiã, e isso embora só tivesse treze anos, um fato que ela utilizava para burlar-se de Bella cada vez que lhe ocorria, pois Bella tinha onze anos e ainda não lhe tinham saído os seios. Entretanto, ultimamente os mamilos planos e infantis de Bella tinham começado a inchar-se, e se sentia muito envergonhada de que alguém os visse. Dava-se muita conta de como despontavam sob a fina camiseta que usava, mas quando estiveram a ponto de se chocar com o Nick na calçada quando este entrava na loja e elas saíam, Bella se esqueceu do leve de sua camiseta.
—Uma camiseta muito bonita — havia dito Nick com seus claros olhos brilhando divertidos, e lhe havia tocado o ombro. Nick estava passando em casa as férias de verão. Jogava futebol americano para a LSU na posição de defesa em seu primeiro curso. Tinha dezenove anos, media mais de um e setenta e seguia crescendo, e pesava cento e seis compactos quilos. Bella sabia por que tinha lido tudo na página esportiva da gazeta local. Sabia que corria uns
Sentiu um comichão no ombro quando Nick a tocou, e seus mamilos inchados se estremeceram e a fizeram ruborizar-se e baixar a cabeça. Todos seus sentidos giraram em um torvelinho ao perceber seu aroma, composto por uma mescla penetrante e indefinível que não soube descrever, quente e almiscarada, com um vermelho ainda mais intenso que o de Renée, cheio de tentadoras cores de matizes profundos e viçosos.
Jodie tirou para fora seus seios redondos, presos por uma blusa rosa sem mangas. Deixou desabotoados os dois botões superiores.
—E minha camiseta, o que acha? —perguntou fazendo biquinho para que seus lábios também se sobressaíssem, tal como tinha visto Renée fazer milhares de vezes.
—Equivocaste-te que cor — disse Nick endurecendo o tom e pondo nele uma gota de desdém. Bella soube a razão: Era porque Renée se deitava com seu pai, Bob. Tinha ouvido como falavam os outros de Renée, e sabia o que significava a palavra «puta».
Nick passou entre ambas, empurrou a porta e desapareceu no interior da loja. Jodie ficou olhando por um espaço de uns segundos e depois posou seus vorazes olhos em Bella.
—Me dê sua camiseta — lhe disse.
—Fica muito pequena em você — replicou Bella, e se alegrou enormemente de que assim fora. Ao Nick tinha gostado de sua camiseta, havia-a tocado, e ela não estava disposta a renunciar a aquilo.
Jodie franziu o gesto ante aquela óbvia verdade. Bella era pequena e magra, mas inclusive seus estreitos ombros pugnavam contra as costuras de sua camiseta, que lhe tinha ficado pequena fazia dois anos.
—Já conseguirei outra — declarou.
Ela também pensou Bella agora enquanto contemplava com expressão sonhadora os raios do sol entre as árvores. Mas Jodie não teria a que havia tocado Nick; ela a tinha tirado assim que chegou a casa, tinha-a dobrado, contudo cuidado e a tinha escondido debaixo do colchão. A única forma de encontrá-la era desfazendo a cama para lavar os lençóis, e como ela era a única que fazia tal coisa, a camiseta permaneceria a salvo e ela poderia dormir em cima dela todas as noites.
Nick. A violência de suas emoções a assustou, mas não podia controlá-las. Quão único tinha que fazer era vê-lo, e o coração começava a lhe pulsar com tal força em seu magro peito que o fazia dano nas costelas e sentia calor e calafrios ao mesmo tempo. Nick era como um deus na pequena população de Nashville, Flórida; era indômito como um potro, conforme dizia as pessoas, mas estava respaldado pelo dinheiro dos Carters, e inclusive desde menino havia possuído um duro e inquieto encanto que fazia bater os corações das meninas. Os Carters tinham engendrado um bom número de descarados e renegados, e Nick logo demonstrou ter o potencial para ser o mais indomável de todos. Mas era um Carter, e mesmo que armasse bronca, o fazia com estilo.
Apesar de tudo isso, nunca tinha sido desagradável com o Bella, tal como tinha ocorrido com algumas pessoas da cidade. Sua irmã Leslie cuspiu uma vez em sua direção quando Bella e Jodie tropeçaram com ela na calçada. Bella se alegrava de que Leslie se encontrasse no Canadá em uma escola particular para senhoritas e de que não fora a casa com muita freqüência, nem sequer durante o verão, porque estava na casas de amigas. Por outra parte, o coração de Bella tinha sofrido durante meses quando Nick partiu a LSU; Orlando não estava tão longe, mas durante a temporada de futebol não ficava muito tempo livre e ia à casa só nas férias. Sempre que sabia que Nick estava em casa, Bella tentava deixar sair pela cidade nos lugares onde pudesse acertar a vê-lo, passeando-se com a graça indolente de um gato grande, tão alto e forte, tão perigosamente excitante.
Agora que era verão, Nick passava muito tempo junto ao lago, o qual era um dos motivos da excursão de Bella através do bosque. O lago era privado, abrangia mais de oitocentos hectares e estava totalmente rodeado pelas terras dos Carters. Era alargado e de forma irregular, com várias curvas; largo e bastante superficial em alguns lugares, estreito e profundo
Talvez estivesse ali hoje, pensou, sentindo já o doce desejo que a embargava cada vez que pensava no Nick. Seria maravilhoso vê-lo duas vezes em um mesmo dia.
Estava descalça, e as puídas calças curtas que usava não lhe protegiam as pernas dos arranhões e as serpentes, mas Bella se encontrava tão cômoda no bosque como as outras tímidas criaturas; não a preocupava as serpentes, e não fazia o menor caso dos arranhões. Seu longo cabelo de cor vermelha escura tendia a lhe pendurar em desordem para frente dos olhos e incomodá-la, de modo que o tinha jogado para trás e o tinha amarrado com uma borracha. Deslizava-se igual a um espectro entre as árvores, com uma expressão sonhadora em seus grandes olhos felinos, ao imaginar ao Nick em sua mente. Talvez estivesse ali; ao melhor um dia a via escondida entre os arbustos, ou aparecida detrás de uma árvore, e então lhe estenderia a mão e lhe diria: — por que não sai daí e vem te divertir conosco?». Perdeu-se na deliciosa fantasia de fazer parte daquele grupo de meninos vermelhos pelo sol, risonhos e briguentos, de ser uma daquelas moças que eram toda curvas e luziam em pequenos biquínis.
Inclusive antes de chegar à borda do claro no que se elevava a casa de verão, viu o brilho prateado do Cadilac do Nick em frente ao edifício, e o coração começou a lhe pulsar com familiar violência. Ele estava Ali! Deslizou-se silenciosamente atrás do parapeito de um grande tronco, mas ao cabo de uns instantes se deu conta de que não ouvia nada. Não se percebia nenhum ruído, nem vozes, chiados nem risadas.
Talvez estivesse pescando no embarcadouro, ou possivelmente tivesse tomado o bote para dar um passeio. Bella se aproximou um pouco mais e torceu por um lado para ter uma vista do embarcadouro, mas este se encontrava deserto. Nick não estava ali. Sentiu que a invadia a desilusão. Se tiver tomado o bote, não havia forma de saber quanto tempo fazia disso, e ela não podia ficar a esperá-lo. Tinha roubado aquele momento para si, mas tinha que retornar logo e ficar a preparar o jantar e cuidar do Scottie.
Estava dando meia volta para partir quando lhe chegou um som amortecido que a fez deter-se com a cabeça inclinada para localizá-lo. Saiu de entre as árvores e deu uns poucos passos em direção ao claro, e então ouviu um murmúrio de vozes, muito fraco e indistinto para entendê-lo. Instantaneamente, o coração lhe deu outro tombo; depois de tudo, sim que estava ali. Mas se encontrava dentro da casa; seria difícil atinar a vê-lo do bosque. Entretanto, se aproximasse mais, poderia ouvi-lo, e isso era tudo o que necessitava.
Bella possuía o dom das criaturas pequenas e silvestres para guardar silêncio. Seus pés nus não fizeram o menor ruído ao aproximar-se da casa. Procurou permanecer fora do campo visual em linha reta de todas as janelas. O murmúrio das vozes parecia provir da parte posterior da casa, onde estavam os dormitórios.
Alcançou o alpendre e se acocorou junto aos degraus, e inclinou outra vez a cabeça em um intento de entender o que estavam dizendo, embora sem êxito. Mas era a voz do Nick; os tons graves eram inconfundíveis, ao menos para ela. Então ouviu um suspiro, uma espécie de gemido, de uma voz muito mais aguda.
Atraída de forma irresistível pela curiosidade e pelo ímã da voz do Nick, Bella abandonou sua postura de cócoras e segurou com cautela o trinco da porta. Não estava fechada. Abriu-a apenas o suficiente para que pudesse passar um gato, e deslizou seu corpo magro e rápido ao interior, e depois, com idêntico silêncio, deixou que se fechasse a porta. Ficou engatinhando e avançou sobre as pranchas do alpendre em direção à janela aberta de um dos dormitórios, do qual pareciam provir as vozes.
Ouviu outro suspiro.
—Nick — disse a outra voz, uma voz de garota, tensa e trêmula.
—Chist — murmurou Nick, um som grave que apenas chegou a Bella. Disse algo mais, mas foi algo que Bella não conseguiu entender. Logo disse — Mon chére – e nesse momento tudo se encaixou de repente. Nick estava falando em francês, e tão logo caiu naquele conta as palavras cobraram sentido em sua mente, como se tivesse feito falta aquela pequena compreensão para que os sons encontrassem o ritmo necessário em seu cérebro. Bella entendia a maior parte do que Nick estava dizendo. A maioria dos paroquianos, falavam e entendiam francês, em diversos graus.
Soava como se estivesse tratando de tranqüilizar a um cão assustado, pensou Bella. Sua voz era cálida e sedutora, salpicada de aduladoras e carinhosas. Quando a moça falou de novo, sua voz ainda soou tensa, mas dessa vez tinha um matiz de embriaguez.
Levada pela curiosidade, Bella se tornou para um lado e moveu com cuidado a cabeça para aparecer um olho pelo marco da janela aberta. O que viu a deixou congelada no lugar.
Nick e a garota estavam nus na cama, a qual estava colocada com a cabeceira debaixo da janela da parede adjacente. Nenhum dos dois tinha probabilidades de vê-la, o qual era um golpe de sorte, pois Bella não poderia haver se movido inclusive embora ambos a tivessem ficado olhando diretamente.
Nick estava estendido de costas para ela, com o braço esquerdo colocado debaixo da cabeleira loira da moça. Inclinava-se sobre ela de um modo que fez que Bella contivesse a respiração, porque naquela postura um pouco de protetor e predador. Estava-a beijando, uns beijos lentos que deixavam a habitação em silêncio exceto pelos profundos suspiros de ambos, e tinha o braço direito... Parecia como se... Estivesse... Trocou de postura, e Bella viu com claridade que tinha a mão direita entre as coxas nuas da garota, justo em cima de seus púbis.
Bella se sentiu enjoada, e caiu na conta de que lhe doía o peito de agüentar a respiração.
Exalou o ar com cuidado e apoiou o rosto contra a madeira branca. Sabia o que estavam fazendo. Tinha onze anos e já não era uma menina embora ainda não lhe tivessem começado a crescer os seios. Vários anos antes tinha ouvido Renée e a pai fazendo o mesmo em seu dormitório, e seu irmão mais velho, Russ, tinha-lhe explicado graficamente e sem nenhum pudor como era a coisa. Ela tinha visto cães fazê-lo, e também tinha ouvido chiar aos gatos enquanto o faziam.
A garota lançou um grito, e Bella voltou a olhar. Desta vez Nick estava em cima dela, ainda murmurando brandamente em francês, adulando-a, acalmando-a. Dizia-lhe quão bonita era e o muito que a desejava, tão atraente e deliciosa. E enquanto falava ia ajustado sua posição, abrindo-se passo entre os corpos dos dois com a mão direita e apoiado sobre o cotovelo esquerdo. Devido ao ângulo, Bella não via o que estava fazendo, mas de todas as maneiras já sabia. Causou-lhe uma forte impressão reconhecer à garota: Lindsey Partain. Seu pai era o advogado do Bob.
—Nick! —exclamou Lindsey com voz tensa. — Meu Deus! Não posso...
As musculosas nádegas de Nick se contraíram, e a moça se arqueou sob ele, gritando outra vez. Mas estava obstinada ao Nick, e o grito foi de intenso prazer. Moveu suas longas pernas, enroscando uma ao redor do quadril do Nick e ancorando a outra à coxa.
Nick começou a mover-se devagar. Seu corpo jovem e musculoso se estremecia de força. A cena era crua e perturbadora, mas também havia nela uma beleza que tinha cativada a Bella.
Nick era tão grande e forte, elegante e intensamente masculino, enquanto que Lindsey era esbelta e bem proporcionada, delicadamente feminina em sua maneira de suspirar.
Nick parecia ter um delicioso cuidado com ela, e ela desfrutava muito daquilo, obstinada às costas dele com suas esbeltas mãos, a cabeça arqueada para trás e movendo os quadris ao mesmo tempo no lento ritmo do moço.
Bella os contemplou a ambos com olhos ardentes. Não estava ciumenta. Nick estava tão por cima dela, e ela era tão jovem, que nunca tinha pensado nele em sentido romântico e possessivo. Nick era o brilhante centro de seu universo, um ser ao que teria que render culto de longe, e ela se sentia bobamente feliz com apenas vê-lo de forma ocasional. Hoje, quando ele de fato chegou a lhe falar, e tocou sua camiseta, sentiu-se no paraíso. Não podia imaginar a si mesmo no lugar de Lindsey, nua entre seus braços, nem sequer imaginar-se como seria aquilo.
Os movimentos de Nick foram fazendo-se mais rápidos, a moça gritou de novo agarrando-se a ele, com os dentes apertados como se sofresse de dor, mas Bella sabia de maneira instintiva que não era assim. Nick estava já arremetendo contra ela, também com a cabeça inclinada para trás, o cabelo arrepiado e loiro empapado. Estremeceu-se e esticou, e de sua garganta surgiu um som áspero e profundo.
A Bella pulsava o coração com força, e se separou da janela com os olhos muito abertos para deslizar-se pela porta e sair do alpendre tão silenciosamente como tinha entrado. De modo que assim era. Tinha visto o Nick fazendo amor, precisamente. Sem a roupa, era ainda mais bonito do que tinha imaginado. Não tinha feito os asquerosos ruídos parecidos com o soprar de um porco que fazia seu pai, quando estava o bastante sóbrio para convencer a Renée de que entrasse no quarto, o qual não acontecia muito freqüentemente nos dois últimos anos.
Se o pai de Nick, Bob, era tão bonito fazendo amor como era Nick, pensou Bella com veemência, não podia censurar a Renée por havê-lo preferido a seu pai.
Alcançou a segurança do bosque e se deslizou em silêncio entre as árvores. Era tarde, e provavelmente seu pai lhe jogaria uma reprimenda ao chegar em casa por não estar ali para lhe fazer o jantar e ocupar-se do Scottie, tal como se supunha que devia fazer, mas valeria a pena. Tinha visto o Nick.
Exausto e feliz, trêmulo e ofegante depois do orgasmo, Nick levantou a cabeça da curva que formavam o pescoço e o ombro de Lindsey. Ela também ofegava, com os olhos fechados. Tinha passado a maior parte da tarde seduzindo-a, mas o esforço tinha valido a pena. Aquela longa e lenta preparação tinha feito que o sexo fora melhor do que tinha esperado.
Um relâmpago de cor, um movimento minúsculo em sua visão periférica, atraiu sua atenção, e voltou à cabeça para a janela aberta e a arvoredo que se estendia mais à frente do alpendre. Alcançou a ver só por um instante uma figura pequena e frágil coroada de cabelo vermelho escuro mas isso lhe bastou para identificar a mais jovem dos Smith.
O que faria a menina rondando pelo bosque tão longe de seu barraco? Nick não disse nada a Lindsey, pois a esta entraria o pânico se acreditasse que alguém podia havê-la visto transar na casa com ele, embora esse alguém fosse só um membro daquela gentinha dos Smith. Ela estava prometida ao Dewayne Mouton, e não lhe faria nenhuma graça que isso lhe enchesse o saco. Os Mouton não eram tão ricos como os Carters — ninguém o era naquela parte de Nashville, — mas Lindsey sabia que podia dirigir ao Dewayne de uma forma em que jamais poderia dirigir ao Nick. Nickolas era o peixe mais forte, mas não seria um marido cômodo, e Lindsey era o bastante ardilosa para saber que de todos os modos não tem nenhuma possibilidade com ele.
—O que acontece? —murmurou ela, lhe acariciando o ombro.
—Nada. — Nick voltou a cabeça e a beijou, intensamente, e depois desentrelaçou os corpos de ambos e se sentou na borda da cama. —É que acabo de me dar conta do quão tarde que é.
Lindsey jogou uma olhada à janela e observou que se foram alongando as sombras, e se incorporou com um gritinho.
—Meu Deus, esta noite tenho que jantar com os Mouton! Não vou poder estar pronta na hora!
Saltou da cama e começou a recolher as peças de roupa dispersas pela habitação.
Nick se vestiu mais pausadamente, mas sua cabeça seguia dando voltas à menina dos Smith.
Os teria visto? E se era assim, diria algo? Era uma menina estranha, mais tímida que sua irmã mais velha, que já dava sinais de ser uma rameira tão grande como sua mãe. Mas a pequena tinha uns olhos amadurecidos naquela carinha de menina, uns olhos que recordavam aos de um gato, de cor verde avelã com manchas douradas, de forma que umas vezes eram verdes e outras pareciam amarelos.
Tinha a sensação de que ela não se perdeu muito; devia saber que sua mãe era a amante do pai dele, que os Smith viviam naquele barraco sem pagar aluguel para que Renée estivesse à mão cada vez que Bob Carter desejasse-a. A menina não se arriscaria a ficar contra nenhum Carter.
Pobre menina, tão magra e pequena e com aqueles olhos de vidente. Tinha nascido no lixo, e nunca teria a oportunidade de sair dele, caso quisesse fazê-lo. Amos Smith era um bêbado mesquinho, e os dois meninos maiores, Russ e James, eram uns valentões vagos e ladrões, tão mesquinhos como seu pai e com reflexos de converter-se também em bêbados. À mãe, Renée, também gostava da garrafa, mas não tinha permitido que a dominasse como lhe tinha passado a Amos. Ela era viçosa e formosa, apesar de ter parido cinco filhos, e possuía aquele cabelo vermelho escuro que só tinha herdado sua filha pequena, além dos olhos verdes e a delicada cútis. Renée não era mesquinha, como Amos, mas tampouco fazia muito de mãe com seus filhos. O único que lhe importava era que transassem com ela. Inclusive se faziam brincadeiras sobre ela na paróquia.
Renée permanecia em baixo, sempre que houvesse um homem disposto a subir em cima dela.
Exsudava sexo, sexo lascivo, e atraía aos homens para ela igual a uma fêmea no cio a um cão.
Jodie, sua filha mais velha, era uma autêntica vadia em florações, e já andava a caça de qualquer pinta dura que pudesse encontrar. Tinha a mesma fixação mental que Renée no que se referia ao sexo, e Nick duvidava muito de que ainda fosse virgem embora só estivesse nos primeiros anos de escola. Não deixava de oferecer-se a ele, mas Nick não se sentia tentado ao mínimo.
Antes transar com uma serpente que com Jodie Smith.
O menino mais jovem dos Smith era deficiente. Nick o tinha visto só uma ou duas vezes, e sempre agarrado às pernas da irmã pequena... Como se chamava essa menina, maldita seja?
Um minuto antes tinha pensado algo que recordava a ela... Bel? Bella a dos olhos felinos? Não, era outra coisa, mas que lhe parecia... Isabella. Era isso. Um nome curioso para uma Smith, já que nem Amos nem Renée eram religiosos absolutamente.
Com uma família assim, a menina estava perdida. Um par de anos mais e seguiria os passos de sua mãe e de sua irmã, porque não conheceria outra coisa. E embora conhecesse outra coisa, de todas as formas todos os meninos a rondariam como lobos só por ser uma Smith, e não agüentaria muito tempo.
A paróquia inteira estava a par de que o pai de Nick se deitava com a Renée, e de que levava anos fazendo-o. Por mais que Nick amasse a sua mãe, supunha que não podia censurar ao Bob por procurar em outra parte; Jane era a pessoa menos física que tinha visto. A seus trinta e nove anos seguia sendo tão fria e encantadora como uma Virgem Maria, indefectivelmente pulcra e composta, e distante. Não gostava que a tocassem, nem sequer seus filhos. O incrível era que tivesse tido filhos. É obvio Bob não lhe era fiel, jamais o tinha sido, para grande alívio dela.
Bob Carter era luxurioso e de sangue quente, e se tinha aberto caminho até muitas camas alheias antes de sentar a cabeça, mais ou menos, com Renée Smith. Mas sempre era amavelmente cortês e protetor com Jane, e Nick sabia que não a deixaria nunca, sobre tudo por uma puta como Renée.
A única pessoa que estava molesta com aquela situação, pelo visto, era sua irmã Leslie. Afetada pelo distanciamento emocional de Jane idolatrava a seu pai e sentia um ciúme feroz da Renée, tanto em nome de sua mãe como porque Bob passava muito tempo com ela. Na casa havia muita mais calma agora que Leslie se foi a um internato e tinha começado a relacionar-se com suas amigas de lá.
—Nick, vamos depressa — rogou Lindsey frenética.
Ele colocou os braços pelas mangas da camisa, mas não se incomodou em abotoar-lhe e a deixou aberta.
—Já estou pronto. — Beijou-a e lhe acariciou o traseiro. — Não permita que lhe alvorocem os cabelos, chérie. Quão único tem que fazer é te trocar de roupa. O resto de ti está maravilhoso, como você é.
A moça sorriu contente pelo completo, e se acalmou um pouco.
—Quando podemos repetir isto? — perguntou ao mesmo tempo em que saíam da casa.
Nick riu em voz alta. Tinha lhe custado à maior parte do verão meter-se na calcinha da garota, mas agora ela não queria perder mais tempo. Perversamente, agora que já era dele, uma boa parte de sua implacável determinação se evaporou.
—Não sei — respondeu em tom preguiçoso. — Logo tenho que retornar à faculdade para praticar com o futebol.
Para mérito dele, Lindsey não fez panelas. Em lugar disso, sacudiu a cabeça para que o vento lhe levantasse o cabelo enquanto o Cadilac avançava pelo atalho privado em direção à estrada, e lhe sorriu.
—Quando quiser. — Era um ano mais velha que ele, e possuía sua dose de segurança em si mesma.
O Cadilac entrou derrapando na estrada, agarrando-se ao asfalto com os pneus.
Lindsey riu enquanto Nick dirigia com facilidade o potente automóvel.
— Deixarei você em casa dentro de cinco minutos — Prometeu. Ele tampouco queria que nada interferisse no compromisso do Lindsey e Dewayne.
Pensou na pequena e esquálida Bella Smith, e se perguntou se teria conseguido chegar bem em sua casa. Não deveria andar por aí só no bosque daquela maneira. Poderia fazer-se dano, ou perder-se. Pior até embora se tratasse de um imóvel privado, o lago atraía aos meninos da escola como um ímã, e Nick não se fazia ilusão a respeito dos adolescentes quando formavam turma.
Se perseguiam Bella, talvez não se detiveram pensar quão jovem era, só pensariam que era uma Smith , Cabecinha vermelha não teria nenhuma possibilidade frente aos lobos. Alguém tinha que vigiar mais de perto aquela menina.
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